A águia e o pombo


Certa vez, duas divindades benevolentes, Taishaku e Bishamon, estavam conversando, Taishaku disse:

- Meu amigo, como você sabe, existem muitos governadores de países neste mundo. Qual desses reis você acha que é o mais benevolente e compassivo?

Bishamon pensou um pouco. Era uma pergunta difícil que não admitia resposta imediata. Logo depois, respondeu:

- Algumas pessoas dizem que o rei Shibi tem uma reputação extremamente boa.

Taishaku reclinou-se e disse:

- Sim, eu também ouvi a mesma coisa. Ele trata a todos com a mesma benevolência que mostra com seu próprio filho.

Taishaku então sugeriu:

- O rei Shibi nunca foi desafiado. Sabemos de sua reputação somente através de palavras, e por isso acho que seria bom fazer um teste. Sugiro fazer o seguinte: porque você não se transforma num bonito pombo e voa diretamente aos braços de Shibi, como se estivesse fugindo de alguma coisa, enquanto eu o persigo disfarçado em águia, fingindo estar à sua caça? Mostre-se extremamente cansado e farei como se estivesse pronto para fazer de você o meu almoço. Assim, podemos verificar se os rumores sobre a sua benevolência e compaixão são de fato verdadeiras.

O rei Shibi estava andando em seu jardim, quando um pombo repentinamente caiu esvoaçando em seus braços. Uma águia irada e feroz girou em cima e pousou num galho próximo ao rei. Ela olhou para o rei e gritou:

- Dê-me esse pombo!

O rei balançou levemente a cabeça:

- Há muito tempo que jurei que seria sempre benevolente com os seres vivos. E por isso não posso dar-lhe de volta. Realmente, sinto muito.

A águia então disse:

- Que juramento idiota! Mas, caro rei, se suas palavras são verdadeiras, então deverá ter piedade de mim, pois sou um ser vivo. Tenho que me alimentar, você sabe, e não como há dias. A menos que me dê o pombo agora, ficarei muito fraco para apanhar outro. E então morrerei com certeza. O que você diz?

O rei queria sinceramente salvar a vida do pombo, mas também teve pena da águia. Portanto, resolveu dar-lhe um pedaço de sua própria carne com o mesmo peso do pombo. Então puxou da sua espada e cortou um pedaço da coxa. Colocou-o num dos pratos da balança do castelo, e o pombo no outro. O rei olhou para a águia e disse-lhe:

- Ouça bem, eu lhe darei minha própria carne se salvar a vida deste pombo.

A águia concordou, mas uma coisa estranha aconteceu. A balança mostrou que o pedaço considerável de sua própria carne estava mais leve que o pombo. O rei ficou perplexo, mas continuou a cortar mais a sua carne. Desafortunadamente, o peso ainda continuava menor que o do pombo. Ele continuou cortando seus membros um a um, mas não conseguia igualar o peso do pombo.

Finalmente, a águia disse:

- Sua Majestade, evidentemente seus esforços são inúteis. Por que não poupa tanta dor e tristeza, dando-me o pombo? - e então reprimiu severamente o rei pela tolice.

O rei , entretanto, recusou categoricamente. Já estava habituado a tais críticas, e disse ao adversário:

- Este sofrimento é pequeno quando comparado com os do inferno, Mas nem mesmo o sofrimento do inferno pode fazer-me parar agora! Jurei ser benevolente e compassivo com todos os seres vivos. Farei tudo para salvar este pombo, mesmo que isso me custe a vida.

De repente a terra tremeu com violência e flores caíram do céu, e outras nasceram de árvores secas, e várias divindades vieram de longe. Elas elogiaram então o rei:

Ele daria sua própria vida.

Nem mesmo para salvar um pequenino pombo.

Ele pouparia sua preciosa vida.

É verdadeiramente a compaixão de um Bodhisattva.

Seu coração merece certamente o elogio do Buda.

Bishamon, o pombo, tomou então a sua forma original e disse à águia:

- Taishaku, a grande benevolência do rei, é sem dúvida verdadeira! Ferimos o corpo de um precioso Bodhisattva. Depressa, use seus poderes para salvá-lo!

Taishaku perguntou:

- Grande rei, não se arrepende de ter sofrido tanto pelo seu juramento?

E o rei respondeu:

- Envolvido pela benevolência do Buda não posso sentir senão alegria profunda. Por que deveria arrepender-me?

Taishaku ouvindo tais palavras, pensou em seu coração: "As pessoas estavam certas. Que maravilhoso rei!".

E então aplicou remédio divino ao rei, recuperando seu corpo ferido.


A pesquisa e digitação deste texto é uma preciosa colaboração de 
Rita dos Reis Kawano -
ritalopes@msn.com 
Com ilustração de Sandro Neto Ribeiro contato@maisbelashistoriasbudistas.com 
Referências  bibliográficas

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