Sobre a beleza feminina

Por Daisaku Ikeda

Eu acho bela a face de uma mulher que traz no seu semblante as inúmeras tempestades que passou. Não importa a idade - assim como há beleza nos veios das árvores que se aprofundam no decorrer dos anos – a beleza originária da luta contra as adversidades brilha com um esplendor único.

Quando se observa realmente uma mulher, sem maquiagem ou apetrechos, eu acredito que sua vida resplande com toda a naturalidade, e sua beleza real e indestrutível emerge. Mas, o que é esta qualidade elusiva chamada beleza?

Na antiga literatura chinesa, as chamadas mulheres bonitas pareciam magras e frágeis. Seus pés eram minúsculos, porque eles eram moldados. Assim, ela aparentava uma fraqueza, quase que doentia. Esta era a preferência daquela época. Posteriormente, na dinastia Tang, a mulher ideal era voluptuosa e com aparência saudável. Mesmo nos dias de hoje, muitas culturas consideram bela uma mulher rechonchuda, e as jovens são encorajadas a se alimentarem bastante. Isto pode soar inacreditável para as mulheres que vivem em sociedades onde as modelos altas e magras imperam como protótipos de beleza.

15.jpg (18323 bytes)
Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

No meu país, Japão, a definição de beleza parece também mudar de acordo com a época. Durante o período Edo, as belas mulheres que eram mostradas nas xilogravuras, tinham longas faces, olhos finos e compridos e queixos protuberantes. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, as mulheres que eram um tanto rechonchudas foram repentinamente consideradas atraentes. Isto me fez questionar as diferenças que existem nos padrões sociais em relação a beleza feminina.

As mulheres acabam sendo presas pela tendência de beleza da época e buscam equiparar seu corpo a este modelo – um padrão imposto pela sociedade vigente.

Geralmente, o propósito ou para quem é direcionada esta busca infinita acaba sendo esquecida. Talvez, no final, o objetivo da beleza é realmente para si mesma, para que se possa sentir bem consigo mesmo quando estiver diante de um espelho. Mas, se o propósito da beleza é ser atraente para outros, então eu honestamente recomendaria que esta energia e tempo dispendidos sejam utilizados para polir e cultivar o seu eu interior. Eu acredito, que o seu caráter é muito mais efetivo para que se torne uma pessoa atraente.

Seja o seu namorado, marido ou amigos…Por que eles se sentem atraidos ? Eu tenho certeza de que não é somente por causa do seu aspecto, mas sim por sua pessoa, a beleza que emana da sua mente e da sua personalidade; as características que as pessoas ao seu redor encontram em seu caráter. Não importa quão bela uma mulher possa ser, se a sua atração se restringe ao físico, eu não acredito que seja duradoura. Ao contrário, irá acabar com o tempo. Em suma, a verdadeira atração por outro ser humano tem origem na confiança e beleza interior que brilha interiormente.

Certa ocasião, eu ouvi uma história sobre uma mulher que participou na vigésima reunião das suas colegas do colegial. Ela descobriu algo impressionante. A maior parte das mulheres que eram belas na juventude aparentavam certa apatia no aspecto, em contrapartida, muitas daquelas que não se destacavam brilhavam com uma beleza interior. E no decorrer do diálogo com as amigas de outrora, ela compreendeu que algumas das beldades da juventude não mantiveram seus esforços para atrair a atenção alheia. Assim, esta atitude complacente de auto-satisfação permaneceu dentro delas através dos anos. Enquanto isto, as mulheres menos atraentes claramente trabalharam em prol do auto-desenvolvimento e se tornaram verdadeiramente atraentes como seres humanos.

Para mim, a real beleza feminina não reside na aparência, mas na profundezas do seu coração. Uma mulher que empenha todos os seus esforços e agem com toda a sinceridade no seu campo de atuação, é bela. Ela brilha de forma magnânima. Ela apresenta um olhar perspicaz, direcionado e que transmite segurança. Este tipo de bilho irá sempre resplandescer sobre mim, como uma beleza externa relacionada com as vestes que ela está utlizando. De fato, aquelas que estão cientes de sua beleza interior não precisam buscar a beleza ao seu redor. Infelizmente, aquelas que se somente se preocupam com a aparência física são geralmente pobres de espírito e buscam compensar esta perda com apetrechos externos.

Todos ansiamos por coisas belas – a beleza da natureza, da aparência, da vida, uma bela família e assim por diante. Mas, estas não podem ser alcançadas se mantivermos uma atitude retraída, somente voltados para si.

Devemos criar melhores relacionamentos com aqueles ao nosso redor e interair com a nossa comunidade e sociedade com um coração amplo. Devemos ser gentis. É somente através deste processo que iremos crescer e cultivar nossa própria beleza.

Uma mulher que pode elogiar, apreciar e sinceramente respeitar aqueles ao seu redor é muito mais bela do aquela que está constantemente criticando os outros. Da mesma forma, alguém que consegue encontrar dentro de si alegria e estímulo na vida diária, ou mesmo na natureza ou nas mudanças de estações, possui o calor e o brilho que pode proporcionar o senso de paz e conforto aos outros. Bela é a pessoa que se torna um profissional em descobrir a beleza.

O famoso escultor Rodin disse certa vez que a beleza não é encontrada em uma mulher, mas em todas as mulheres. E ele identificou como a fonte que acende estsa beleza como a "chama da vida interior". A chama de um coração puro, a chama da compaixão, a chama da esperança e a chama da coragem. Estas chamas são a fonte da luz na qual capacita as mulheres a brilharem com beleza.

É dito que "a beleza de uma mulher brilha com a idade". Eu acredito que estas palavras são de grande sabedoria. As pessoas geralmente relacionam beleza com juventude, e não conseguem estabelecer uma analogia entre "mulher bela"e "mulher idosa". Com certeza, uma jovem na adolescência é bela, mas há um tipo de beleza diferente que é encontrada nas mulheres em seus trinta, cinquenta ou mesmo setenta anos. Quando se busca a beleza interior, pode-se compreender que a real beleza feminina reside naquela pessoa, cuja virtude é realçada e cultivada com o tempo.

O budismo ensina que a sua aparência física é o reflexo da vida interior. Assim, uma mulher realmente bela conhece a si mesmo, quais são os seus pontos fortes e é feliz e confiante por ser autêntica consigo mesma.

Hoje, vivemos numa época onde o comercialismo dita o que é belo, mas, por favor, se lembre que não é possível encontrar a verdadeira beleza nas tendências da moda. Nem é possível comprá-la através do dinheiro. Muitas jovens inseguras tendem a ficar confusas com todas as mensagens divulgadas pelos meios de comunicação existentes na sociedade atual, mas eu sinto que apreciar e compreender a sua própria beleza significa estabelecer um caráter interior seguro e robusto que não é abalado pelas circunstâncias externas. Toda mulher pode ser bela. E tudo se inicia na crença da sua própria beleza.

Fonte: Mirror Weekly, 22 de junho de 1998

  Preciosa Colaboração de Charles Chigusa
e-mail:
chigusacharles@hotmail.com
 

indice.jpg (3687 bytes)

As Mais Belas Histórias Budistas
http://www.maisbelashistoriasbudistas.com  e-mail: contato@maisbelashistoriasbudistas.com