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OS DEZ ESTADOS DE VIDA

Os altos e baixos da nossa vida emocional 
são explicados na teoria budista dos Dez Mundos
(relatado por um adolescente inglesa chamada Gayle Colman)

O Budismo ensina que toda a forma de vida contém dez estados potenciais, chamados Os Dez Estados ou Mundos. Com exceção do Estado de Buda (que é só positivo), todos os outros possuem aspectos positivos ou negativos. Os seis estados inferiores (Seis Maus Caminhos) aparecem quando o indivíduo reage ao seu meio ambiente. Por outro lado, os quatro estados elevados (Quatro Nobres Caminhos) aparecem apenas quando o indivíduo faz um esforço.

Quatro Nobres Caminhos


 
ESTADO DE VIDA
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS NEGATIVOS
ESTADO DE BUDA
O mundo da perfeita liberdade, no qual a pessoa desperta para o Nam-Myoho-Rengue-Kyo, a verdade eterna e fundamental que é a realidade de todas as coisas. Caracterizado pela felicidade que não pode ser destruída pelo sofrimento, sabedoria ilimitada, coragem, benevolência e força vital. É o estado intocado pelo carma negativo.  
BODHISATTVA O mundo do altruísmo, no qual a pessoa atua para as outras pessoas, ajudando-as sem esperar recompensa. Ficar com pena ou desprezar a pessoa que se está tentando ajudar. Se tornar "mártir" na causa e negligenciar sua própria vida.
ABSORÇÃO É o mundo em que a pessoa busca "insight" ou sabedoria através de suas próprias observações do mundo. A fagulha criativa. Similarmente à Erudição, a pessoa pode se tornar absorta em questões intelectuais, arrogante e não Ter bom senso e uma visão de vida mais ampla.
ERUDIÇÃO O mundo no qual a pessoa busca compreender algum conceito através dos ensinamentos de outros, com o objetivo de crescimento pessoal Tendência a se tornar exclusivista, distante da vida diária e se sentir superior aos intelectualmente menos capazes.

Seis Maus Caminhos


 
 ESTADO DE VIDA
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS NEGATIVOS
ALEGRIA Por um curto período, a pessoa experimenta prazer intenso e felicidade e se torna positiva em relação ao mundo em geral. O mundo da felicidade transitória, experimentada ao se satisfazer um desejo. É de curta duração e o desejo de prolongá-lo pode levar a excessos. Da Alegria ao Inferno ou Ira é um pequeno passo.
TRANQUILIDADE A habilidade de controlar seus desejos através da razão e de agir humanamente. O mundo da calma. Um estado frágil e de fácil ruptura, em que a pessoa é incapaz de realizar transformações.
IRA A paixão contra a injustiça e para criar um mundo melhor. O mundo do egoísmo, caracterizado pelo conflito e pelo desejo arrogante de ser melhor do que todos.
ANIMALIDADE O instinto de temer o perigo; de dormir e comer regularmente; de reproduzir, de proteger e nutrir vida. O mundo do instinto, em que a pessoa ameaça os fracos e teme os fortes. Busca do prazer. Estupidez. Viver apenas o presente.
FOME Busca por melhorias. O desejo de criar valor. O desejo de viver. O mundo dos desejos, por conforto, por sexo, dinheiro, etc. Estado que nunca é satisfeito. Ganância.
INFERNO Conhecendo-se o sofrimento pode-se entender a felicidade. Ao se compreender o Inferno, pode-se ganhar o desejo de ajudar os outros. O mundo do sofrimento. Depressão. Desespero. Na sua forma mais externa, o impulso de destruir a si próprio e à tudo o que está em volta.

 

Minha mãe costuma me descrever como "instável" ou "muito nervosa" dependendo do meu comportamento, insondável ou meramente imprevisível. As pessoas nunca sabiam como iam me encontrar – uma palavra descuidada e eu partia para matar; alguém com problemas e eu derrubaria muros para ir ajudá-lo. Se eu disser que minha família e amigos "pisavam em ovos" ao redor dos meus humores, estaria falando quase literalmente.

A montanha russa de emoções em que todos andamos incontrolavelmente, na maior parte do tempo, é compreendida no Budismo como os Dez Estados de Vida. Como num parque de diversões, gritamos com terror ou prazer diante dos altos e baixos, nos deleitamos nos momentos de paz entre as quedas e nos sentimos desolados quando a volta termina.

Para ser mais específica, são os seis estados inferiores que eu descrevi aqui, que constantemente ocorrem dentro de cada indivíduo sem que eles façam nenhum esforço e são despertados por acontecimentos do mundo exterior. Estes estados inferiores são Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade e Alegria. Vamos olhar mais de perto a Alegria por um momento, um estado de espírito muito procurado.

Quando adolescente, eu costumava adorar estar apaixonada. Meu mundo era o lugar melhor, eu era generosa para com as pessoas que eu normalmente detestava. Conforme os problemas surgiam, eu lidava com eles sem esforço, ou melhor ainda, nem lidava com eles. No meu estado de euforia abrangente, os problemas pareciam triviais, o trabalho escolar era uma consideração menor e o futuro além do meu desvaneio hedonista – inimaginável.

O problema é que Alegria não dura. Se eu descobrisse que "aquele rapaz" (ou aquele "imbecil" como ele se tornava) também estava saindo com a Maria, meu pequeno castelo de sonhos se desmontava e eu caía instantaneamente no Inferno.

Conforme minha vida se recuperava, eu caía numa tranqüilidade arrogante – eu era boa demais para ele de qualquer forma – mas que também não durava. Mais cedo ou tarde chegaria outro rapaz.

Estes eram os "estados de espírito" pelos quais eu me precipitei por toda a minha vida. Completamente à mercê deles; as pessoas nunca sabiam como iriam me encontrar, ou quanto tempo um estado iria durar. Eu percebi, porém, com um crescente mal-estar, que continuava repetindo o mesmo padrão de acontecimentos, sem parar e que, o que era pior, não importando o quanto eu achava que tinha aprendido numa determinada situação, eu era impotente para prevenir que ela acontecesse de novo.

Uma das minhas melhores amigas gosta de uma vida tranqüila; quase totalmente ao contrário de mim, ela nunca cria caso. Ela nunca calunia as pessoas ou tenta ser melhor que ninguém, ela só quer que todos sejam bons uns com os outros. Não parece ótimo?

O problema é que as coisas estão sempre "acontecendo" com ela; as pessoas a sua volta de repente começam a agir muito mal ou as finanças dela despencam.

Essas coisas sempre a pegam de surpresa – e vai ser sempre assim, porque ela não gosta de tomar as atitudes que preveniriam a próxima catástrofe. E, sempre que a situação se assenta de novo, ela faz o mesmo, como um avestruz em sua tranqüilidade – até o próximo e imprevisto desastre.

Todas as pessoas são atraídas por um ou dois dos nove estados, do Inferno a Bodhsattva, e tendem a funcionar através desses estados com mais freqüência. E porque criamos nosso futuro através de ações que são baseadas num desses estados, temos a tendência a formar hábitos que nos fazem infelizes. Por exemplo, se o nosso estado dominante é a Fome – insatisfação inquieta – as causas que fazemos tendem a produzir efeitos que intensificam a nossa Fome. Surge uma pessoa que parece ser a resposta aos nossos sonhos – mas ele ou ela nunca é bom / boa o suficiente e portanto, em pouco tempo, já estamos procurando em outro lugar novamente.

Seria um erro, no entanto, pensar que podemos erradicar ou suprimir estes estados, presumir que a vida seria melhor sem eles. Eles são parte e parcela da vida e nós experimentamos todos eles a todo o momento, quer gostemos disso ou não.

O que podemos fazer, entretanto, é lutar para revelar seu lado positivo, já que todos os estados (exceto o Estado de Buda) têm aspectos positivos e negativos. Como fazemos isto? Fazendo Daimoku (recitação no Nam-myoho-rengue-kyo - pronuncia-se namiorrórenguequio)  para revelar nosso Estado de Buda, o mais elevado dos Dez Estados.

O Estado de Buda não é um fim por si só. É a mais poderosa força da vida que trabalha através dos nove estados, transformando seus aspectos negativos em positivos e nos permitindo criar benefícios em qualquer situação que apareça.

Quando o Estado de Buda é a base para todas as nossas ações, somos fundamentalmente livres, cada vez menos dominados pelos nossos pensamentos e hábitos negativos e, desta forma, capazes de fazer novas causas baseadas no nosso mais elevado potencial. O Estado de Buda significa que todas as nossas atividades, em qualquer dos nove estados que operemos, serão eventualmente vistas como uma fonte de benefício para todos.

O Estado de Buda só existe aqui no concreto das nossas vidas diárias. Se o Estado de Buda predomina, eu ainda ficarei zangada, porém, mais freqüentemente, ao ler os jornais e ver a confusão que estamos criando a nossa volta, também sentirei alguma benevolência pelas pessoas que, aprisionadas nos nove estados, não conseguem impedir que elas próprias recriem velhos problemas e até mesmo inventem novos.

É importante ao falarmos dos Dez Estados dizer que cada estado contém todos os outros. No estado de Inferno, por exemplo, é possível também alcançar uma poderosa percepção de alguma verdade fundamental. Vejamos o exemplo de Vincent Van Gogh. Em meio ao seu infernal sofrimento mental, ele criou beleza que durará para sempre. Mesmo no meu pequeno mundo, eu consegui objetivos aparentemente impossíveis usando o poder da minha Ira, transformada pelo meu Estado de Buda, para me levar avante. Se os Dez Estados não se possuíssem mutuamente, então não haveria escapatória do Inferno ou de qualquer outro estado – nunca.

Os Dez Estados existem não somente dentro do indivíduo, mas também na sociedade e no meio ambiente físico. Isto é parte da teoria do Itinen Sanzen (Três Mil Mundos Num Só Momento de Vida), que explica teoricamente como é que, quando fazemos o Estado de Buda a base de nossas vidas, através da recitação do Nam-Myoho-Rengue-Kyo, temos o poder de afetar positivamente e transformar gradualmente tudo e todos à nossa volta, ao passo que nós mesmos nos transformamos.

Nam-Myoho-Rengue-Kyo é descrito por Nitiren Daishonin como "um navio para cruzar o mar de sofrimento" e, para mim, é exatamente como funciona. Ao invés de me deixar levar, sem defesa, pelas ondas poderosas das minhas emoções, ao invés de me sentir como uma vítima das vicissitudes do mundo exterior, eu posso me posicionar no leme da minha vida e começar a direcionar o meu caminho através das dificuldades. Eu posso aceitar que sou responsável pelo meu próprio sofrimento e pelos meus "humores".

Porque eu comecei a achar o trauma emocional muito desgastante. Não quero agonizar sem sentido sobre altos e baixos ilusórios, ou apontar o dedo para fora de mim mesma quando as coisas dão errado; mas, para ser honesta, também não quero perder as minhas paixões na vida tão pouco. Não quero Ter um caráter "imaculado". Sou bem apegada aos meus nove estados e é bom saber que não tenho que abrir mão deles na minha busca pela iluminação.

Afinal, é o Estado de Buda, e não a santidade o que estou procurando.

Gayle Colman para UK Express nº 247


Preciosa Colaboração de
Neide Marinho -  nmarinho@fst.com.br


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