Carta a Niike
(Niike Gosho - Páginas 1439 a 1444)


 Que felicidade é nascer nos Últimos Dias da Lei e poder compartilhar a propagação do Verdadeiro Budismo! Quão dignos de pena são aqueles que, embora nascidos nesta época não podem crer no Sutra de Lótus!’

Ninguém pode fugir á morte, uma vez nascido como ser humano; então, por que não praticar como preparação para a próxima vida? Quando observo o que as pessoas estão fazendo, percebo que, embora professem a fé no Sutra de Lótus e conservem os seus manuscritos, elas agem contra o espírito do Sutra e assim caem prontamente nos maus caminhos. Para ilustrar, uma pessoa tem cinco grandes órgãos internos porém se mesmo um só deles ficar doente, contaminará todos os demais, e a pessoa acabará morrendo. O Grande Mestre Dengyo afirmou: "Mesmo louvando o Sutra de Lótus ele destrói a sua alma".5 Ele quis dizer que mesmo que uma pessoa abrace, leia e louve o Sutra de Lótus se trair a sua intenção estará destruindo não somente Sakyamuni, mas todos os outros Budas do universo.

A soma das nossas más ações mundanas e do mau carma poderá ser tão grande quanto o Monte Sumeru mas, uma vez abraçando a fé neste sutra, desaparecerão como a geada ou o orvalho sob o sol do Sutra de Lótus Entretanto, se a pessoa cometer mesmo uma ou duas das catorze calúnias" mencionadas neste sutra, será quase impossível expiar o seu pecado. Matar um único Buda seria um pecado muito maior do que destruir todos os seres vivos do universo, e violar o espírito do Sutra é cometer o pecado de destruir todos os Budas. Aquele que incorrer em qualquer uma daquelas catorze, é um caluniador.

O Inferno é uma moradia de fogo amedrontadora, e a Fome um lamentável estado onde pessoas famintas devoraram seus próprios filhos. Ira é contenda e discórdia e Animalidade é matar ou ser morto. O inferno do lótus vermelho-sangue é assim chamado porque o intenso frio desse inferno faz o indivíduo dobrar-se até que as suas costas abram-se e a carne sangrenta aflore como uma flor de Lótus carmesim. Existem ainda infernos mais horríveis. Uma vez caindo em tão mal estado, mesmo um trono ou um título de general nada significará. O indivíduo não será diferente do macaco numa corda, torturado pelos guardas do inferno. Para que lhe serviria então a sua fama ou a fortuna? Ele poderá ainda continuar arrogante e persistir em suas falsas crenças?

Pare e pondere! Como é rara a fé que faz o indivíduo oferecer donativos a um Sacerdote que conhece a alma do Sutra de Lótus! Ele não se desviara para os maus caminhos, mesmo se o fizer uma só vez. Ainda maiores serão os benefícios resultantes de dez ou vinte contribuições ou de cinco anos, dez anos, ou uma vida de contribuições. E estão além da medida da sabedoria do Buda. O Buda ensinou que os benefícios de um só oferecimento ao devoto deste sutra são uma centena de milhares de miríades de vezes maiores do que o de oferecer ilimitados tesouros a Sakyamuni por mais de oito bilhões de aeons. Quando abraçar este sutra, o senhor transbordará de felicidade e verterá lágrimas de alegria. Parece impossível retribuir o nosso débito a Sakyamuni mas, através dos seus freqüentes oferecimentos a mim, nas profundezas destas montanhas, o senhor retribuirá os benevolentes préstimos do Sutra de Lótus e do Buda Sakyamuni. Lute ainda mais pela fé e jamais seja derrotado pela negligência. Todos parecem crer sinceramente quando abraçam inicialmente o Sutra de Lótus mas, com o passar do tempo, tendem a dedicar menos; deixam de respeitar ou servir ao Sacerdote, e criam arrogantemente visões distorcidas. Este fato é o mais temeroso. Empenhe-se no desenvolvimento da fé até o último momento de sua vida. Caso contrário, arrepender-se-á. Por exemplo, a viagem de Kamakura a Quioto leva doze dias. Se viajar durante onze dias e parar antes de completar o décimo segundo dia, como poderá admirar a lua da linda capital? Em qualquer circunstância, aproxime-se do Sacerdote que conhece a essência do Sutra de Lótus continue aprendendo dele a verdade do Budismo e prossiga a sua viagem da fé

Como passam depressa os dias! Isso nos faz perceber como são curtos os anos que deixamos. Os amigos admiram as flores de cerejeira nas manhãs da Primavera e então partem, levados como as flores pelos ventos da impermanência, nada deixando senão os nomes. Embora as flores tenham sido dispersadas, as cerejeiras florescerão outra vez com a chegada da Primavera, mas quando renascerão aquelas pessoas? Os companheiros com quem compusemos poemas admirando a lua, nas noites de outono, desapareceram com a lua atrás das nuvens passageiras. Somente suas imagens mudas continuam em nossos corações. A lua se põe atrás das montanhas do ocidente, mas nós iremos compor poemas sob a mesma no próximo outono. Mas onde estão os nossos companheiros que faleceram? Mesmo quando o Tigre da Morte ruge próximo a nós não o ouvimos. Quantos dias restam ainda ao cordeiro destinado ao sacrifico?

Nas profundezas das Montanhas Nevadas vive um pássaro chamado Kankutyo que, torturado pelo frio paralisante, chora dizendo que fará um ninho na manhã seguinte. Todavia, quando o dia irrompe, ele se esquece das horas na luz morna da manhã, deixando de construir o seu ninho. Dessa forma, continua chorando em vão durante toda a vida. Isso também verdadeiro com as pessoas. Quando caem no inferno e se sufocam em suas chamas, desejam renascer humanas e juram deixar tudo de lado para servir os Três Tesouros" e atingir a iluminação na existência seguinte. Porém mesmo nas raras ocasiões em que renascem sob forma humana, os ventos da fama e da fortuna sopram com violência e a luz da prática budista é facilmente apagada. Sem qualquer escrúpulo, desperdiçam suas riquezas em insignificâncias, mas restringem mesmo a menor contribuição ao Buda, A Lei e ao Sacerdote. Isso é muito sério pois estão sendo influenciados pelos mensageiros do inferno. Este é o significado de "O bem aos centímetros convida o mal aos metros".

Além disso, uma vez que esta é uma terra onde as pessoas caluniam o Sutra de Lótus os deuses, que deveriam estar protegendo-as, anseiam pela Lei e ascendem aos céus renunciando aos seus santuários. Os santuários vazios são então ocupados pelos demônios que desencaminham os adoradores. O Buda, uma vez completado seus ensinos, retomou ao paraíso eterno. Templos e santuários foram abandonados para tomarem-se moradias dos demônios Essas imponentes estruturas dispõem-se em filas, construídas com custeio do Estado, e ainda assim as pessoas sofrem. Essas não são simplesmente minhas próprias palavras, elas são encontradas nos sutras, então, o senhor deveria aprendê-las também.

Nem os Budas nem os deuses jamais aceitariam oferecimentos daqueles que caluniam a Lei. Então como podemos nós seres humanos, aceitá-los? A divindade do Santuário Kasuga proclamou através de um oráculo que não aceitaria nada daqueles com corações. impuros, mesmo que tivesse de comer as chamas do cobre ardente; ela recusaria pôr os pés em suas casas, mesmo que tivesse que sentar no cobre em brasas. Ela preferiria visitar uma cabana miserável com ervas daninhas obstruindo a passagem, ou uma pobre e pequena casa de sapé. A entidade declarou que nunca visitaria o infiel mesmo que ele pendurasse grinaldas sagradas durante mil dias para recepcioná-la, mas que iria a uma casa onde as pessoas fossem devotas, não importando o quanto os outros desprezassem sua infelicidade. Lamentando que os caluniadores aniquilassem este país, os deuses abandonaram-no e ascenderam aos céus. "Aqueles com corações. impuros" significa aqueles que recusam abraçar o Sutra de Lótus como é afirmado no quinto volume do Sutra de Lótus Se os próprios deuses consideram os oferecimentos dos caluniadores como "chama de cobre ardente", como poderíamos nós mortais comuns, possivelmente consumí-los? Se alguém estivesse para matar nossos pais e então tentasse oferecer-nos algum presente, poderíamos aceitá-lo? Nem mesmo os sábios e santos podem evitar o inferno dos incessantes sofrimentos se aceitarem oferecimentos dos caluniadores. Nem o senhor deve associar-se com os caluniadores, pois se assim o fizer, partilhará a mesma culpa com eles. O senhor deve temer isso acima de tudo.

Sakyamuni é o pai, soberano e mestre de todos os Budas e deuses, de toda a assembléia dos homens e seres celestes e de todos os seres sensíveis. Que deus se rejubilaria se Sakyamuni fosse morto? Hoje todas as pessoas de nosso país provaram ser inimigas de Sakyamuni, mas, mais do que homens e mulheres leigos, são os bonzos com a compreensão distorcida que são os piores inimigos do Buda. HÁ dois tipos de compreensão a verdadeira e a distorcida. Não importa o quão erudita uma pessoa possa aparentar, se suas idéias são desvirtuadas, o senhor não deve ouvi-la. Nem deve seguir os bonzos simplesmente por que eles são venerados ou por que ocupam uma alta posição. Mas se uma pessoa possui a sabedoria para conhecer o espírito do Sutra de Lótus não importa o quão desprezível ela possa aparentar, venere-a e sirva-a como se ela fosse um Buda vivo. Isto é afirmado no Sutra.

Esta é a razão por que o grande Mestre Dengyo disse que os homens e mulheres leigos que acreditam neste sutra, mesmo que careçam de conhecimento ou violem os preceitos, devem sentar-se acima dos reverendos Hinayana que observam rigorosamente os 250 mandamentos. Os bonzos deste sutra Mahayana devem, portanto, estar sentados numa posição mais alta. Acredita-se que Ryokan do Templo Gokurakuji seja um Buda vivo, mas os homens e mulheres que acreditam no Sutra de Lótus devem sentar-se acima dele. Parece extraordinário que esse Ryokan, que observa os 250 mandamentos, se torne nervoso e de olhar carrancudo todas as vezes que vê ou ouve sobre Nitiren. O sábio, parece, foi possuído por um demônio. Ele é como uma pessoa basicamente tranqüila que, quando bêbada, revela um lado maligno e causa problemas. O Buda ensinou que dar oferecimentos a Mahakashyapa, Shariputra, Maudgalyayana e Subhuti, que ainda não conhecem o Sutra, conduziria uma pessoa a cair nos três maus caminhos. Ele disse que esses quatro grandes discípulos eram mais desprezíveis do que cachorros selvagens ou chacais. Eles inflexivelmente sustentaram os 250 mandamentos budistas e a prática deles dos 3.000 critérios foi tão perfeita quanto a lua cheia. Mas até eles abraçarem o Sutra de Lótus eram ainda como cachorros selvagens para o Buda. Em comparação, nossos bonzos são tão desprezíveis que estão além de qualquer descrição.

Os bonzos dos templos Kencho-ji e Engaku-ji quebraram o código de conduta de forma tão flagrante que se assemelham a uma montanha que se transformou num monte de pedregulhos. Seu comportamento licencioso é como o dos macacos. E completamente inútil procurar por salvação na próxima vida através de oferecimentos a esses bonzos. Não há dúvida que os deuses protetores abandonaram a nossa terra. Há muito tempo atrás, os deuses, Bodhisattvas e homens de erudição juraram juntos, na presença de Sakyamuni, que se houvesse uma terra hostil ao Sutra de Lótus eles se transformariam na geada e no granizo no verão para trazer a fome sobre a terra, ou se tomariam a peste para devorar a colheita, ou causariam a seca ou enchentes para arruinar os campos e as fazendas, ou se tomariam tufões e varreriam as pessoas para suas mortes, ou se transformariam em demônios e importunariam as pessoas.

O Bodhisattva Hatiman estava entre aqueles presentes. Ele não teme quebrar o juramento feito no Pico da Águia? Se ele quebrasse sua promessa, certamente seria condenado ao inferno dos incessantes sofrimentos - uma atemorizante e terrível coisa para se contemplar.

Até o enviado do Buda realmente aparecer para expor o Sutra de Lótus os governantes da terra não eram hostis ao sutra, pois eles reverenciavam todos os sutras igualmente.

Entretanto, agora que estou propagando o Sutra de Lótus como emissário do Buda, todos - desde o governante até a mais simples pessoa tornam-se um caluniador. Até aqui, Hatiman fez todo o possível para evitar que as hostilidades contra o Sutra de Lótus se desenvolvessem entre nosso povo. Ele foi tão relutante quanto o ato dos pais de abandonar seu único filho. Mas, agora, temendo quebrar o juramento feito no Pico da Águia, ele destruiu seu santuário para ascender aos céus.

Mesmo assim, se houvesse um praticante do Sutra de Lótus que desse sua vida por ele, Hatiman cuidaria dessa pessoa. Mas uma vez que tanto Tensho Daijin e Hatiman se foram, como poderiam os outros deuses permanecerem em seus santuários? Mesmo que eles não quisessem partir, como poderiam permanecer por mais um dia se eu os reprovaria por não manterem suas promessas? Uma pessoa pode ser um ladrão e, enquanto ninguém souber disso, ela pode viver onde quer que queira. Mas, quando denunciada como ladrão por alguém que a conheça, ela é forçada a fugir. Da mesma forma, uma vez que conheço seus juramentos, os deuses são compelidos a abandonar seus santuários. Contrariamente a crença popular, a terra tomou-se habitada pelos demônios Que vergonha!

Muitos expuseram os vários ensinos de Sakyamuni, mas até agora, ninguém nem mesmo Tient’ai ou Dengyo, ensinou o mais importante de todos. Isso é como deveria ser, pois esse ensino aparece e propaga-se com o advento do Bodhisattva Jogyo durante os primeiros quinhentos anos dos (Últimos Dias da Lei.

Não importa o que venha a acontecer, mantenha sempre imperturbável a sua fé no Sutra de Lótus. Assim, no último momento da vida, o senhor será recebido por mil Budas que o levarão rapidamente ao paraíso no Pico da Águia onde experimentarás a verdadeira felicidade da Lei. O senhor não deverá reprovar-me caso sua fé enfraqueça e não atinja a iluminação nesta existência. Se o fizer, o senhor será como o paciente que recusa o remédio que o médico lhe receitou e em seu lugar toma o remédio errado. Jamais lhe ocorrerá que a culpa é sua, e ele culpara o médico por não se curar. A fé neste sutra significa que o senhor certamente atingirá o Estado de Buda se for fiel á totalidade do Sutra de Lótus seguindo exatamente os seus ensinos, sem acrescentar nenhuma de suas próprias idéias ou seguir interpretações arbitrarias dos outros.

Atingir o Estado de Buda não é nada extraordinário. Se recitar o Nam-myoho-rengue-kyo 13 com a totalidade da sua vida, o senhor naturalmente ficará dotado das trinta e duas feições e oitenta características" do Buda. Sakyamuni afirmou: "No início jurei tomar todas as pessoas perfeitamente iguais a mim, sem qualquer distinção entre nós". Portanto, não é difícil tomar-se Buda.

O ovo de um pássaro não contém sendo líquido, mas dele se desenvolve um bico, dois olhos e todas as partes que formam um pássaro, e pode voar pelos céus. Nós também. somos como o ovo, ignorantes e vis, mas, quando nutridos pela recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, desenvolvemos o bico das trinta e duas feições do Buda e as penas das suas oitenta características e ficamos livres para voar nos céus da realidade última. O Sutra do Nirvana afirma que todas as pessoas estão envolvidas pela casca da ignorância, faltando-lhe o bico da sabedoria. O Buda volta a este mundo, tal como o pássaro-mãe retoma ao seu ninho e quebra a casca para que todas as pessoas, como aqueles filhotes, possam deixar seu ninho e voar nos céus da iluminação.

"Conhecimento sem fé é uma descrição daqueles que podem ser versados no Sutra de Lótus mas não crêem nele. Essas pessoas jamais atingirão o Estado de Buda. Aqueles que tem "fé sem conhecimento" podem estar privados do conhecimento, mas eles crêem e podem atingir o Estado de Buda. Estas palavras não são meramente minhas, mas estão explicitamente afirmadas no sutra. No segundo volume do Sutra de Lótus o Buda disse a Shariputra "É através da fé e não da sua própria inteligência que o senhor poderá atingir a iluminação.11 Isso explica por que mesmo Shariputra, insuperável em sua inteligência somente pôde atingir o Estado de Buda abraçando e crendo firmemente no sutra. Somente o conhecimento não o podia levar A iluminação. Se Shariputra não poderia atingir a iluminação através do seu vasto conhecimento, como nós de reduzido conhecimento, ousaríamos sonhar em atingir o Estado de Buda sem ter fé? O sutra explica que as pessoas nos Últimos Dias da Lei serão arrogantes embora seus conhecimentos do Budismo sejam superficiais, e mostrarão desrespeito aos sacerdotes, negligenciarão a Lei, e assim cairão nos maus caminhos. Se o indivíduo realmente compreende o Budismo, ele deveria demonstrá-lo em seu respeito ao Sacerdote, reverencia A Lei e oferecimentos ao Buda. O Buda Sakyamuni não esta agora entre nós e assim o senhor deverá respeitar a pessoa de sabedoria iluminada como se fosse o próprio Buda. Se o seguir com sinceridade, os seus benéficos serão abundantes. Se o indivíduo almeja a felicidade na próxima existência, deverá renunciar ao seu desejo pela fama e fortuna e respeitar o Sacerdote que ensina o Sutra de Lótus como um Buda vivo, não importando quão humilde seja a posição desse Sacerdote. Assim está escrito no sutra.

A seita Zen viola atualmente os cinco grandes princípios da humanidade - benevolência retidão, honradez, sabedoria e fé. Honrar a sabedoria e a virtuosidade, respeitar os mais velhos e proteger os jovens, são condutas humanas universalmente reconhecidas tanto no budismo como nos domínios seculares. Mas os reverendos da Zen, que não são nada mais que uma plebe mal-educada, não são nem mesmo inteligentes o suficiente para distinguir o preto do branco. Eles vestiram agora pomposas vestimentas sacerdotais e tomaram-se tão presunçosos que menosprezam os bonzos eruditos e virtuosos das seitas Tendai e Shingon. Eles não observam nenhuma das maneiras apropriadas e pensam que estão numa posição maior do que os outros. Essas pessoas são tão insolentes que mesmo os animais são mais respeitáveis. Considerando isso, o Grande Mestre Dengyo escreveu que a lontra mostra seu respeito oferecendo o peixe que apanhou, O corvo na floresta carrega alimento para seus pais e avós a pomba toma o cuidado de pousar três ramos abaixo do de seu pai, os gansos selvagens mantêm uma perfeita formação quando voam e os cordeiros ajoelham-se para beber o leite de sua mãe. Ele pergunta que se os animais inferiores conduzem-se com tal respeito, como os seres humanos podem faltar em cortesia? Julgando das palavras de Dengyo, é natural que os bonzos da Zen possam estar confusos sobre o Budismo uma vez que ignoram até mesmo como os homens devem se comportar. Eles estão agindo como demônios

Entenda claramente o que eu ensinei ao senhor aqui e pratique sem negligência. todos os ensinos dos oito volumes e vinte e oito capítulos do Sutra de Lótus. Quando o senhor ansiar por me ver, ore para o sol e ao mesmo tempo minha imagem se refletirá nele. Faça o reverendo que é meu mensageiro ler esta mensagem para o senhor. Confie nele como um reverendo com uma sabedoria iluminada e pergunte-lhe quaisquer questões que o senhor possa ter sobre o Budismo. Se o senhor não perguntar e resolver suas dúvidas, não poderá dispersar as nuvens negras de ilusão e será como tentar viajar mil milhas sem as pernas. Deixe meu mensageiro ler esta carta uma vez e mais uma vez e pergunte-lhe quaisquer questões que desejar. Na expectativa de vê-lo novamente, eu concluo aqui.

Respeitosamente,

Nitiren

No segundo mês do terceiro ano de Koan (1280)


FUNDO DE CENA

Nitiren Daishonin escreveu "Carta a Niike" no Monte Minobu, em fevereiro de 1280, aos cinqüenta e nove anos de idade. O recebedor, Niike Saemon-no-jo, era um oficial samurai do governo Kamakura. Ele tinha esse nome porque residia num local chamado Niike, no distrito Iwata, província de Totomi. Ele e sua esposa Niike-ama foram convertidos ao Budismo de Nitiren Daishonin por Nikko Shonin. Não se sabe muito sobre Niike, mas parece ter sido um fervoroso seguidor que serviu A Nitiren Daishonin com devoção.

Nesta carta, Nitiren Daishonin explica sob diversos ângulos a atitude correta da fé e os benefícios oriundos dela. Nitiren Daishonin lamenta por aqueles que, embora nascendo numa época em que a Lei Mística se propagaria, recusam-se a abraçar a fé nela. Ele salienta a transitoriedade da vida humana e a conseqüente importância de não desperdiçar tempo na busca de valores transitórios. Em vez disso, é preciso discernir o que é realmente importante na vida e persistir até o fim na busca da Verdadeira Lei.

Ele explica que o potencial para o Estado de Buda é inerente a todas as pessoas, e que a fé e não a capacidade intelectual, é a chave para manifestar a iluminação.


PALAVRAS E FRASES

1 - (Últimos Dias de Lei: Período que se iniciaria dois mil anos após o falecimento do Buda Sakyamuni, quando os seus ensinos perderiam o poder o Buda Original faria seu advento para conduzir todas as pessoas A iluminação. Afirma-se que duraria por dez mil anos e mais. Os budistas japoneses na época de Nitiren Daishonin geralmente acreditavam que os Últimos Dias teriam se iniciado no ano 1052.

 

2 - Sutra de Lótus Genericamente, indica a escritura respeitada como o mais elevado ensino do Buda Sakyamuni, presumivelmente exposto durante os seus oito últimos anos de vida. Ele ensina que todas as pessoas podem atingir o supremo Estado de Buda, e unifica em si todos os ensinos anteriores e provisórios.

O termo "Sutra de Lótus é também usado para indicar o mais elevado ensino budista de uma era específica, ou seja, o ensino que leva diretamente A iluminação. Nos Últimos Dias da Lei, indica o Nam-myoho-rengue-kyo das Três Grandes Leis Secretas. Nitiren Daishonin usava freqüentemente o termo "Sutra de Lótus em seus escritos para indicar a lei do Nam-myoho-rengue-kyo ou o Gohonzon.

3 – Cinco grandes órgãos internos: pulmão, coração, baço, fígado e rins.

4 - Dengyo (767-822): Fundador da seita Tendai no Japão. Também conhecido como Saityo. Seu nome honorífico e o titulo é Dengyo Daishi (Grande Mestre Dengyo). As obras de Tient’ai confirmaram sua fé no Sutra de Lótus e, em 804, viajou A China para aprender as doutrinas de Tient’ai. Graças aos seus esforços, a seita Tendai tomou-se a mais influente no Japão, e a importância do Sutra de Lótus foi reconhecida em todo o país.

5 - Hokke Shuku: Dengyo fez esta observação em relação ao seu contemporâneo Tokuiti, um estudioso da Seita Hosso, o qual afirmou que a doutrina da iluminação universal do Sutra de Lótus é um ensino provisório. Nitiren Daishonin o emprega num I sentido amplo, indicando as pessoas de sua época que violam a intenção do sutra.

6 - Sakyamuni: Buda Sakyamuni, o fundador do Budismo, que viveu na Índia há mais de dois mil anos.

7 - Monte Sumeru: Montanha que, segundo a antiga cosmologia indiana, estaria no centro do mundo. Dizia-se que sua altura seria de oitenta e quatro mil yojana, sendo uma yojana igual A distância que o exército real caminharia num dia.

8 - Catorze calúnias Quatorze espécies de calúnia A verdadeira Lei ou aos seguidores, enumerados no Hokke Mongu Ki de Miao-lo, com base no capítulo Hiyu (32) do Sutra de Lótus. São: (1)arrogância, (2) negligência (3) julgamento arbitrário e egoístico, (4) entendimento superficial e presumido, (5) adesão aos desejos mundanos, (6) falta de espírito de procura, (7) descrença, (8) aversão, (9) dúvida deludida, (10) difamação (11) desprezo (12) ódio, (13) inveja, e (14) rancor.

9 - Inferno do Lótus Vermelho-Sangue: Um dos oito infernos frios que, na antiga cosmologia indiana, estaria sob a terra. Esses infernos são descritos no Kusha Ron, no Sutra do Nirvana e em outras obras.

10 - Montanhas Nevadas: Um nome do Himalaia, freqüentemente citado nas escrituras budistas.

11 - Três Tesouros: Três pontos que todos os budistas devem respeitar e servir: o Buda, a Lei (Dharma, em sânscrito), e o Sacerdote (Sangha). O Buda é a pessoa iluminada A verdade última. A lei é o ensino que o Buda expõe para conduzir os outros A mesma iluminação que ele alcançou. O Sacerdote herda e transmite a Lei para as gerações futuras. As explanações dos Três Tesouros diferem conforme os ensinos do Budismo. Na Nitiren Shoshu, o "Buda" indica Nitiren Daishonin, a "Lei" indica o Dai-Gohonzon e o "Sacerdote" indica Nikko Shonin.

12 - Pico da Águia: Montanha localizada ao nordeste de Rajagriha, a capital de Magada, na antiga Índia, onde Sakyamuni teria exposto o Sutra de Lótus. Conforme usado neste Gosho, o termo "Pico da Águia" também simboliza a terra do Buda ou o Estado de Buda.

13 - Nam-myoho-rengue-kyo: A Lei Última ou realidade absoluta que permeia todos os fenômenos do universo. Indica também a invocação do Daimoku que constitui a prática básica do Budismo de Nitiren Daishonin.

14 - Trinta e duas feições e oitenta e duas características: Segundo vários sutras, seriam atributos físicos notáveis que os Budas possuiriam. Imaginava-se que cada uma delas teria sido adquirida como resultado de muitas existências de práticas meritórias. A noção dessas características notáveis servia para inspirar admiração nas pessoas e motiva-las a buscar o Caminho. Elas podem ser consideradas como símbolos da sabedoria, benevolência habilidades, etc, do Buda.

15 - Sutra de Lótus capítulo 2.

16 - Sutra do Nirvana: Compilação de ensinos que teriam sido expostos pelo Buda Sakyamuni no bosque sal, no último dia de sua vida, confirmando os mais importantes princípios do Sutra de Lótus.

17 - Shariputra: Um dos dez maiores discípulos do Buda Sakyamuni, conhecido como o supremo em sabedoria. No Sutra de Lótus ele é o primeiro a compreender o princípio do "veículo único do Buda" e recebe do Buda a profecia da sua futura iluminação.

18 - Sutra de Lótus capítulo 3.

 


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