Quem é Daisaku Ikeda

Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional, nasceu em 2 de janeiro de 1928 . De uma família pobre que ganhava a vida plantando e colhendo algas marinhas comestíveis, conhecidas como nori, era o quinto filho entre oito irmãos.

Passou a infância no bairro de Kamata, em Tóquio. Sempre teve uma saúde frágil e por isso constantemente questionava sobre a vida e a morte.

Em 1939, quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial, Daisaku Ikeda tinha onze anos de idade. Um ano após, o Japão avançava na guerra, o sofrimento do povo aumentava.15.jpg (18323 bytes)

Devido às dificuldades financeiras, a família Ikeda decidiu vender a casa onde vivia e foi morar numa outra ainda em construção. Tiveram de ficar provisoriamente num barraco.

Aos poucos, um a um, os quatro irmãos mais velhos de Daisaku Ikeda foram convocados para a guerra, sendo que o mais velho faleceu em combate na Birmânia em janeiro de 1945.

Com isso, Daisaku Ikeda teve de assumir maiores responsabilidades dentro de casa, ajudando também a cuidar dos irmãos mais novos e a comprar alimentos.

Quando começaram os bombardeios em Tóquio, sua casa foi incendiada.

Na juventude, trabalhava numa fábrica de armamentos e sofria de tuberculose pulmonar. Devido às circunstâncias da época, os cuidados com a saúde eram precários. Todos os dias, ao entardecer, um febre o atacava. Além disso, a tosse era constante. Os médicos chegaram a dizer que provavelmente não chegaria aos trinta anos de idade.

Daisaku Ikeda estava com dezessete anos quando a Segunda Guerra Mundial terminou. Foram tempos sombrios e difíceis devido à derrota do Japão e à ocupação das forças aliadas. O povo estava faminto, sem esperança nem perspectivas no futuro.

Com o fim da guerra, a metalúrgica onde trabalhava foi desativada e ele foi trabalhar numa fábrica de motores e combustão. Começou a freqüentar um curso noturno. Trabalhou também prestando serviço para uma tipografia. Costumava empurrar uma carreta enorme cheia de materiais impressos, que entregava aos editores dos distritos de Guinza e Kanda, em Tóquio.

Nessa época, morava em Morigasaki, no bairro de Omori, numa casa construída por seu pai.

Na cidade de Tóquio, completamente devastada pelos bombardeios, não era possível encontrar alimentos. Por essa razão, Daisaku se deslocava para as cidades vizinhas a fim de conseguir comida para a família. Cada dia era uma luta para Daisaku, que arrastava o corpo doente. O futuro era completamente incerto.

Com dezenove anos, vivendo no período confuso do pós-guerra, em que a ruína do conceito tradicional de valor provocava um vazio no coração dos jovens conscientes, ele preenchia esse vazio espiritual estudando literatura e lendo livros sobre filosofia com um grupo de amigos estudantes.

Nesse grupo, havia um amigo da mesma idade com o qual sempre caminhava à noite na Praia de Morigasaki, conversando sobre a vida e ideologias. Criavam também poesias e declamavam-na um ao outro. À medida que a amizade se tornava mais forte, seu amigo começou a revelar seus problemas. Muitas vezes, com lágrimas nos olhos, contava a pobreza que enfrentava, o conflito familiar, a desconfiança que tinha das pessoas a dor pelo amor não correspondido.

Como um barco sem rumo, ele era arrastado pela tempestade do destino. Mesmo assim, buscava o caminho da salvação, um rumo para a sua vida. Nessa situação, começo a freqüentar um igreja cristã.

Nessa época, o jovem Daisaku Ikeda ainda não possuía nenhuma filosofia ou pensamento que pudesse transmitir coragem e convicção para seu amigo. Tempos depois, transformou a conversa que teve com esse amigo num poema e intitulou-o de "Praia de Morigasaki":

Estou com meu amigo
Na praia de Morigasaki.
Forte é o perfume do mar
Frente às ondas que se afastam.
Temos dezenove anos
Que caminhos seguiremos?
Ficamos filosofando
Enquanto as horas se vão.
Meu amigo se pertuba
No seu jeito desvalido:
"O que eu quero seguir
é o caminho de Cristo!"
No luar, os olhos brilham,
Bate firme o coração:
As ondas chegam de novo.
No barranco que desmorona
A relva ainda cresce espessa.
Não sei que insetos zunem.
Vamos compor hoje à noite
Alguns poemas ou canções?
Nossa música terá
O tom das antigas cortes?

Nada diz o meu amigo
Que caminho escolherei
Para que eu chegue a voar
Lá pelos jardins da lua?
O amigo enxuga as lágrimas.
Reparo a sua tristeza,
Sua solidão. Mas me ergo
E lhe peço que façamos
Uma jura: a de enfrentar
A vida, a de amar a vida,
Ainda que ela nos doa.
Então o amigo sorri:
"Comigo podes contar!"

Um mundo bem diferente
O meu amigo procura.
Mas eu tenho o meu caminho.
Num palco uma canção nova
Que nunca chega a seu fim
E os cabelos ficam brancos
Conversando com a lua.

Boa sorte, meu amigo.
Em nosso próximo encontro -
Quando há de ser ninguém
Sabe -
Silenciosos partiremos
Para diferentes rumos.
Onde de prata vão e vêm
Na praia de Morigasaki.

Em 1947, o Japão era controlado pelas forças de ocupação. Em meio à pobreza e privação, a sociedade japonesa sofria mudanças profundas. Em Tóquio, onde Daisaku morava, barracos eram erguidos sobre as ruínas e algumas pessoas moravam em abrigos antiaéreos.

Nesse cenário, o jovem Daisaku participou pela primeira vez, no dia 14 de agosto, de uma reunião da Soka Gakkai e encontrou-se com Jossei Toda.

Na ocasião, ele fez para Toda três perguntas: Como seria uma existência humana correta? Como se define um verdadeiro patriota ? Como o senhor encara o imperador ?

Ao ouvir as respostas simples, diretas e calorosas de Jossei Toda, o jovem Daisaku ficou impressionado com sua sinceridade e pensou que afinal tivesse encontrado um mestre e que talvez sob suas orientações compreendesse o significado da vida.

Apesar de entender a aceitar o que estava sendo exposto na reunião, Daisaku Ikeda resolveu refletir sobre o que vivera naqueles momentos e citou em célebre ditado chinês: 

"Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é bom pensar mais uma vez, embora discorde."

Assim dizendo, afirmou que estudaria a filosofia para aprendê-la e como prova de seu agradecimento pediu licença para recitar uma poesia.

Ó viajante!
De onde vens?
Para onde vais ?

A lua desce
No caos da madrugada;
Mas vou andando,
Antes do Sol nascer,
À procura de luz..

No desejo de varrer
As trevas de minh' alma,
A grande árvore eu procuro 
Que fúria da tempestade.
Neste encontro ideal,
Sou eu quem 
Surge da Terra

 (1) Daisaku Ikeda, Cantos do Meu Coração. Geir Campos, trad. Editora Record, Rio de Janeiro.)

Jossei Toda ficou impressionado com o jovem Daisaku, principalmente quando ouviu o último verso do poema, pois ele não tinha conhecimento do termo budista Jiyu-no-bossatsu, que significa "emergir da Terra", referindo-se aos seguidores de Nitiren Daishonin que emergiram da Terra para propagar o Verdadeiro Budismo nesta era.

Outro fato que impressionou Toda foi que Daisaku Ikeda estava com dezenove anos e ele quarenta e oito, a mesma idade que ele tinha quando se encontrou com o primeiro presidente e fundador da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, que na época também estava com quarenta e oitos anos.

Anos depois, quando já era líder da SGI, Daisaku Ikeda disse que se converteu ao budismo por ter confiado em Jossei Toda.

Dez dias após esse encontro, em 24 de agosto, um domingo, Daisaku Ikeda participou da cerimônia de conversão ao Budismo de Nitiren Daishonin.

Após a conversão, ele buscou entender os ensinamentos budistas e se integrar nas atividades da organização.

Em 1949, Daisaku Ikeda foi admitido como funcionário da empresa Nihon Shogakan, de Jossei Toda.

Dois anos após, em 1951, Jossei Toda tornou-se o segundo presidente da Soka Gakkai. Nessa ocasião, objetivou a concretização de 750 mil conversões a fim de crias as bases de desenvolvimento pela paz mundial e da organização.

Nesse período, Daisaku Ikeda foi morar num pequeno quarto próximo ao trabalho. A cada ano, as atividades se intensificavam. Em meio a essa batalha, ele se esforçava ao máximo, sendo o braço direito do presidente Toda. Pouco a pouco, foi assumindo responsabilidades na organização e quando os negócios de Toda entraram em crise, Daisaku permaneceu ao seu lado, mesmo recebendo o salário atrasado. Acima de tudo, Jossei Toda era seu mestre da vida e concretizar seus objetivos era sua missão como discípulo.

Foram várias as importantes etapas pelas quais a organização passou nos anos que se seguiram e que ficaram registradas na história do movimento pela paz mundial e são lembradas até os dias de hoje.

Em 1952, o objetivo de Toda de concretizar 750 famílias estava seguindo a passos lentos, demonstrando a impossibilidade de sua concretização. Então, Daisaku Ikeda foi indicado como assessor do Distrito Kamata para liderar as atividades. Nessa ocasião, ele tinha 24 anos de idade e, com sua paixão juvenil, mesmo com o corpo debilitado pela doença que ainda o acompanhava, dedicou-se intensamente à atividade de propagação do mês de fevereiro e conseguiu converter 201 famílias. Esse feito acendeu a chamada do movimento pela paz e todos os distritos, proporcionando a concretização do objetivo de 750 famílias. Por isso, o mês de fevereiro é considerado até os dias de hoje como o "Mês do Chakubuku".

Em 3 de maio desse mesmo ano, Daisaku Ikeda casou-se com Kaneko Shiraki, com quem teve três filhos.

Em 1956, foi designado como responsável geral das atividades da região de Kansai. Chegando a Osaka em 4 de janeiro, iniciou uma grande batalha, pois nessa localidade os membros eram novos de prática a não possuíam experiência em desenvolver atividades. Contudo, sob sua liderança todos se empenharam e conseguiram uma conversão inédita de 11.111 famílias em apenas um distrito. Um feito inédito no movimento pela paz mundial.

No ano seguinte, foi realizada uma eleição suplementar para o Senado em Osaka. Entretanto, um escândalo devido à compra de voto causada pelo comportamento irresponsável de alguns membros de Tóquio trouxe tumultos nos momentos finais da campanha eleitoral, levando o candidato indicado pela Soka Gakkai à derrota.

Por ser o responsável principal pela campanha, Daisaku Ikeda foi preso injustamente sob falsa acusação de mandante da compra de votos e solicitação de votos de porta em porta - atos que infringiam a lei eleitoral.

Daisaku Ikeda foi preso em 3 de julho de 1957 e saiu catorze dias depois, no dia 17. No entanto, somente em 1962 é que o julgamento foi encerrado e ele foi considerado como inocente e todas as acusações. Esse fato ficou conhecido como o Incidente de Osaka. Na realidade, por trás de tudo isso havia a ação malévola do poder político que pretendia impedir o avanço da Soka Gakkai.

Em 1958, com trinta anos de idade, Daisaku era responsável de planejamento da Soka Gakkai, e todas as atividades estavam sob sua responsabilidade, pois Jossei Toda encontrava-se gravemente doente.

Em 16 de março, foi realizada uma reunião com seis mil jovens. Nessa ocasião, o presidente Toda proferiu a sua última orientação, vindo a falecer no dia 2 de abril.

Essa reunião foi considerada como a transmissão do bastão do movimento pelo Kossen-rufu ao jovens herdeiros, mais precisamente a Daisaku Ikeda. E o dia 16 de março é comemorado anualmente como o "Dia do Kossen-rufu".

Nos últimos meses de vida do presidente Toda, Daisaku Ikeda procurou gravar em seu coração todas as suas palavras. Apesar de todo o sofrimento que sentia por saber que a vida de seu mestre estava no fim, o registro de suas palavras ficou como um testamento que ele vem cumprindo até os dias de hoje.

Daisaku continuou a liderar as atividades sufocando a dor pela morte de seu amado mestre a fim de incentivar os companheiros a dar continuidade aos ideais de Jossei Toda.

Por três vezes, foi chamado pelos diretores da Soka Gakkai, que lhe solicitaram que assumisse a presidência. No entanto, ele recusou devido à imensa responsabilidade que o cargo exigia, por ser muito jovem e por ainda estar respondendo ao processo no Incidente de Osaka.

Devido à insistência de todos e por sentir a necessidade da época, pois havia rumores de que a Soka Gakkai iria se desintegrar por ter perdido seu sustentáculo, Daisaku Ikeda aceitou a missão e assumiu como terceiro presidente da Soka Gakkai em 3 maio de 1960.

Nessa ocasião, ele disse: "Sei que sou ainda bastante jovem e inexperiente. Entretanto, a partir de hoje, representando os discípulos de Toda, peço-lhes permissão para comandar, um passo avante, a concretização do Kossen-rufu."

Cinco meses após assumir a terceira presidência, Daisaku Ikeda partiu no dia 2 de outubro para sua primeira viagem ao exterior com uma comitiva de seis dirigentes da Soka Gakkai. Levou no bolso do paletó uma foto de seu mestre com o sentimento de fazer a viagem no lugar dele.

A viagem abrangia nove cidades de três países: Honolulu, no Havaí, São Francisco, Seattle, Chicago, Nova York, Washington e Los Angeles (nos Estados Unidos) Toronto (Canadá), e São Paulo (Brasil).

Em cada uma dessas cidades, ele estruturou a organização e no Brasil fundou o Distrito Brasil, predecessor da Associação Brasil - SGI (BSGI). A partir de então, inúmeras foram as viagens realizadas ao redor do mundo em prol da paz.

Assim, a organização foi sendo estruturada em diferentes países, surgindo a necessidade da criação da Soka Gakkai Internacional, ocorrida em Guam, no Havaí, em 1975. Daisaku Ikeda passou então a ser presidente e impulsionou ainda mais o movimento em prol da paz, da cultura e da educação. Hoje a SGI está presente em 163 países e regiões e realiza atividades em prol do bem-estar da sociedade.

Daisaku Ikeda escreveu: "A grandiosa revolução humana de uma única pessoa irá um dia impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade."

Ele comprovou essas palavras com a sua própria vida. O jovem doente que para muitos não passaria dos trinta anos e completou setenta e três anos em janeiro de 2001.

A paz a que ele devota sua vida não é apenas a ausência de guerras e conflitos, mas representa uma condição da sociedade na qual a dignidade e os direitos do indivíduo são respeitados plenamente. O presidente Ikeda sabe que a paz começa no coração das pessoas, um conceito fundamentado na convicção budista de que a vida humana contém a habilidade inerente para criar o valor e promover a harmonia entre os seres humanos e seu ambiente.

Cultura para ele é a expressão viva dessa capacidade singularmente humana. Ele também atribui caráter fundamentado à educação como um veículo para o aprimoramento do potencial à educação como um veículo para o aprimoramento do potencial do indivíduo. Educação e cultura são, nesse sentido, principais ingredientes para a concretização da paz.

O presidente Ikeda fundou várias instituições - tais como as Escolas Soka (da pré-escola à universidade), a Associação de Concertos Min-On e Museu de Arte Fuji de Tóquio - para promover empreendimentos educacionais, culturais e artísticos e dirigir intercâmbios em escala global com grupos e entidades afins.

Com o objetivo de promover o diálogo entre acadêmicos e ativistas de valores comuns, fundou o Centro de Pesquisas para o Século XXI de Boston e o Instituto Toda para a Paz Global e Pesquisa Política. O presidente Ikeda também iniciou um ampla série de programas de intercâmbios e proferiu palestras em diversas instituições de ensino ao redor do mundo, entre essas a Universidade Harvard, o Instituto da França e a Academia Brasileira de Letras.

Num ensaio, ele escreveu: "Eu cumpri o juramento que fiz ao meu mestre. Eu cumpri o juramento que fiz aos meus companheiros. Eu cumpri todos os objetivos que lancei."

Escreveu também: "Um discípulo é aquele que coloca em prática os ensinamentos de seu mestre. Um discípulo é aquele que cumpre sua promessa. Eu fiz tudo isso e esse é meu maior orgulho."

Ele prossegue percorrendo o mundo, aplicando ativamente os princípios da filosofia budista aos problemas da humanidade e empenhando-se vigorosamente para criar uma nova era o século XXI - uma era de esperança, de compreensão, de respeito mútuo e de paz e prosperidade embasadas no verdadeiro humanismo.

Preciosa Colaboração de Seiji Takemura -  seijitakemura@uol.com.br 

 

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