Escrevendo a inimitável história 
da nossa Revolução Humana

Por Jeanny Chen, Saratoga, California.
Disponível em http://www.happyjeanny.com


Faço parte da Divisão Feminina e tenho a grande boa sorte de viver perto de algumas jovens senhoras da minha região. Com elas nos reunimos regularmente para dialogar a respeito de qualquer tema da vida cotidiana e da nossa prática budista. Elas levam muito a sério sua revolução humana e sua procura de ser cada dia melhores pessoas e boas candidatas para encontrar sua "alma gêmea". Um dia todas mantivemos um diálogo a fundo com o fim de fazer uma lista dos defeitos e virtudes que cada uma identificava como próprios e com os que devia trabalhar. (Ver Apêndice I)

Como, no pessoal, não estou procurando nenhuma nova aventura na minha relação de casal, tive que permanecer a parte da discussão e limitar-me a oferecer-lhes minhas humildes reflexões. De fato, tenho muitas coisas que melhorar, mas é muito fácil se as identifico primeiro para depois transformá-las; por isso, ajudar os outros com sua revolução humana ocupa o primeiro lugar na minha lista de prioridades.

A palavra "prática" (budista) se expressa em chinês com dois caracteres ou ideogramas. O primeiro caractere significa "cultivar-se e mudar a si mesmo", ou seja, "fazer sua revolução humana". O segundo caractere significa "agir".

De fato, qualquer que tome a decisão de abraçar sinceramente a prática do budismo de Nitiren Daishonin deve, ante tudo, levar à prática este requisito. Gostaria de explorar com vocês este caminho da revolução humana do ponto de vista prático no seu nível mais básico de cultivar virtudes e erradicar defeitos.

 A virtude é o oposto do defeito. E já estamos a caminho de cultivar as virtudes se conseguimos corrigir nossa tendência negativa. Portanto, nos focaremos nesta última, por requerer um maior esforço. Não importa quão perfeitos acreditemos ser, ainda nos resta muito para melhorar. Se queremos mudar nosso destino, devemos mudar nós mesmos primeiro.

Se não o fizermos, cada vez que se produzir uma determinada situação, a conduziremos com as mesmas velhas atitudes e ações. Deste modo, vamos repetidamente gerando um resultado similar ou carma construído por nossos próprios pensamentos, palavras e ações. E ainda assim, continuamos perguntando-nos porquê devemos sofrer tanta má sorte ou carma negativo sobre os quais sentimos que não temos controle algum. Uma definição para o termo "demente" que uma vez escutei um amigo dizer é: "Aquele que repete as mesmas ações uma e outra vez mas esperando obter resultados diferentes em cada oportunidade".

Recitar Nam-myoho-rengue-kyo é a maneira de ativar nossa sabedoria e coragem inerentes à nossa natureza de Buda. Com sabedoria e espírito de procura, somos capazes de tomar consciência de quais são nossos defeitos, pontos fracos, imperfeições e tendência básica de vida. E a força que fazemos surgir nos possibilita agir para ajustá-los e corrigi-los. Certa vez, compartilhei este pensamento com um membro. Um mês depois, ela contou sua experiência numa reunião de diálogo (palestra) do seu distrito: amava-se tanto a si mesma que, no início, não achou que tivesse algo para mudar. Mas era tão educada que não queria ferir meus sentimentos exibindo os seus em discordância com meu comentário, mesmo que estes sentimentos de rejeição fossem reais. Não obstante, começou a recitar Daimoku sinceramente sobre o assunto. Após duas semanas, chegou a compreender seus sentimentos e o por quê sua vida esteve tão equivocada no passado: tinha fracassado em seis casamentos e na atualidade encontrava-se sozinha.

Ela foi afortunada de poder vê-lo graças ao seu Daimoku: buscou no seu interior seu estado de Buda, como todos o fazemos. Porém, também existem outros recursos dos quais podemos utilizarmo-nos. Nosso par, amigo íntimo, ex-cônjuge, ex-amigo íntimo, pais, parentes políticos, filhos, amigos, companheiros de trabalho, vizinhos, parentes... todos podem brindar-nos excelentes perspectivas a respeito daquilo que devemos mudar. E quanto menos alguém nos queira e mais nos deteste, mais pungentes e crus serão suas alfinetadas, especialmente se nos propomos amá-los não importa que opinião tenham ao nosso respeito: é muito estimulante para ambas partes.

Um membro pediu-me orientação e tinham-lhe dito que um dos seus problemas era ser muito dominante. Sentei-me então com ela para analisar a evidência e os motivos. Desta maneira, ela pode encontrar solução à sua tendência de vida daninha. Foi capaz de realizar as ações necessárias e conseguiu grandes mudanças graças à sua conscientização. (Ver Apêndice II ).

Além de tudo o exposto, como seres humanos devemos trabalhar também a nível da realidade. Já que todos temos pago o preço dos erros cometidos na nossa vida mas não podemos simplesmente apagá-los e recomeçar de estaca zero, devemos tirar proveito deles, extraindo valor. Mas... como? Podemos rever seriamente os eventos nos quais agimos mal ao longo de nossa vida.

Assumamos a total responsabilidade em vez de culpar os outros. Examinemos minuciosamente o que foi que pensamos, dizemos ou fizemos que ajudou para que piorasse determinada situação. Escrevamos uma lista completa e detalhada de cada uma destas situações. Depois de recitar Daimoku, quando estivermos calmos e tenhamos clareza mental e o desejo de mudar nosso comportamento negativo, escrevamos a forma correta em que tivéssemos gostado de direcionar esse evento em particular como se pudesse voltar a acontecer. Em épocas de bonança, pensemos em situações imaginárias que pudessem surgir no futuro. Dentro de nós, ensaiemos a resposta conforme à lista que fizemos do comportamento correto: nos preparará para que, no momento preciso, atuemos espontaneamente da maneira correta que já tínhamos determinado. Assim, poderemos estar bem seguros de que desta vez as coisas andarão na direção mais conveniente.

Agora já estamos preparados para concentrar por completo nossos esforços em afastar-nos cuidadosamente do nosso antigo padrão de conduta e começar a aprender as lições que nossas experiências negativas nos brindam. Somente pensar no doloroso e prolongado efeito a longo prazo de nossos sofrimentos passados, nos bastará para temê-los o suficiente e parar de repetir as mesmas ações negativas uma e outra vez. Ainda se somos afortunados, sobreviventes cheios de marcas e cicatrizes, deveremos enfrentar as conseqüências do nosso comportamento negativo ao longo dos seguintes dois a cinco anos. Quantos dois, três, cinco anos podemos dar-nos o luxo de jogar no lixo?

E até algumas vezes, nossos erros nos custarão o lapso de toda uma vida de sofrimento, ou além. Mas algumas pessoas parecem não temer o incessante sofrimento: são surpreendentemente resistentes e veementes, e a dor destes sofrimentos mundanos por si só não é o bastante aguda como para romper com seu padrão de conduta.

Então necessitam de certos raciocínios que os ajudem a mudar seus pontos de vista:


A medida que praticamos, nos converteremos cada dia em pessoas melhores do que ontem. E muito melhores que as que fomos um ano ou cinco anos atrás. Pensem na boa sorte, as boas causas e o desenvolvimento que temos acumulado, momento a momento, desde os inícios de nossa prática.

Refiro-me a todo o Daimoku que temos recitado, a todas as pessoas às que temos feito conhecer o Budismo, aos ensinamentos que temos aprendido e a muito mais. Estamos num estado de vida mais elevado. Possuímos uma perspectiva mais elevada, mais benevolente.

Nosso meio ambiente e condições pessoais tem mudado para melhor.

De fato, a mesma situação que antes nos deixava incrivelmente mal, agora não gera o mesmo impacto em nós.

Alguma vez perguntaram-se por quê aquela roupa que tanto gostávamos usar no ano passado ou antigamente, já não nos chama a atenção? E o que há com aqueles que trocaram eternos e doces votos na sua cerimônia de casamento, só para encontrar-se hoje em dia presos pelo rancor e o ódio?

A causa de sempre emergir nossa resposta habitual é nossa inércia. Em outras palavras, respondemos sem pensar. Não será difícil descartar nossas velhas estruturas: o que precisamos é sentar-nos e refletir sobre isso, "atualizar a informação" das nossas mentes e "reiniciar nosso programa" vital. Pode ser que resulte difícil mudar por completo de uma vez só, mas se nos observarmos cuidadosamente e nos impulsionarmos a melhorar mesmo que seja 5% a cada mês, em vinte meses seremos alguém totalmente novo e feliz.

Muitas pessoas investem meses e anos para realizar negócios multimilionários, ou nas suas carreiras profissionais. Pesquisam, recolhem informação, estudam, comunicam-se, entrevistam-se com profissionais e docentes, mentes notáveis, influenciam, deduzem, comparam, descobrem... Passam noites inteiras sem conseguir dormir tentando organizar suas idéias, tentando tirar conclusões. Depois as levam para o papel em cuidadosas teses.

Nossas vidas são muito mais importantes e valiosas que estes assuntos. Deveríamos, a qualquer custo, desenhar e construir minuciosamente um propósito de nossas vidas tal, que seu benefício estenda-se por toda a eternidade.

Se pelo bem de nossa felicidade, estamos desejando mergulhar de vez nesta luta da nossa revolução humana... como reagimos frente às pessoas que nos provocam dificuldades? Segundo o ensinamento de Daishonin de unicidade de sujeito e ambiente, cada vez que avançamos, nosso meio ambiente também melhora. Certamente que o meio ambiente pode afetar nossas vidas, mas é a vida que toma a iniciativa.

O ambiente é um espelho que reflete nossas vidas, mas somos nós os que assinalamos o caminho. Quando nossa vida é polida, o ambiente que nos rodeia ilumina-se. As pessoas que nos rodeiam o percebem e respondem em harmonia. A vida é subjetiva: nos permite a transformação do ambiente ao nosso redor.

O Presidente Ikeda resume este tema de maneira precisa:

"Onde podemos encontrar um majestoso caminho que nos conduza para a transformação e a mudança? Ralph Waldo Emerson (1803-1882) afirmou: ‘Grande não é quem pode transformar a matéria, e sim aquele que modifica meu estado mental’. E urgia-nos energicamente a empreender uma transformação interior.

Asseguro-lhes que o desafio que nos fazemos a nós mesmos no dia a dia – o desafio da nossa revolução humana - constitui esse grandioso caminho para realizar a transformação de nossa família, da região na qual vivemos e da sociedade inteira. A revolução interior é a revolução mais fundamental e essencial que nos possibilita conseguir a transformação de todas as coisas". ("Fé em Ação, pág. 128)


Apêndice I

(Lista de exemplos para nossa revolução humana)

 VIRTUDES


Ser física, psicológica e mentalmente são.
Capaz
Esperançado
Fisicamente apto
Otimista
Diligente
De mente aberta
Respeitoso
Independente
Confiável
Sincero
Energético
Sábio
Reflexivo
Convicto
Resistente
Amável
Tolerante
Agradecido
Alegre
Atraente
Razoável
Com senso de humor
Divertido
Não queixoso
Esclarecido
Benevolente
Meigo e protetor
Positivo

DEFEITOS

Falta de confiança e auto-estima
Intransigente com cada item, detalhe ou insignificância
Dominador
Negligente
Boicotador
Crítico
Irracional
Triste
Arrogante
Invejoso
Mal-humorado
Vingativo
Estúpido
Obstinado
Lamentador
Preguiçoso
Rígido
Colérico
Intratável
Narcisista
Inconveniente
Egoísta
Susceptível
Estagnado
Negativo
Mente estreita
Mesquinho
Ruim
Apêndice II


(Uma experiência - também à maneira de exemplo - de como transformar nossa tendência negativa)

Ela é vice-presidente de uma empresa, segura de si mesma, competente, eficiente, eficaz, muito sagaz. Ganha o dobro de salário que seu marido, que foi demitido do seu emprego duas vezes em dois anos.

Por causa da sua capacidade e personalidade, jamais duvida em tomar a iniciativa perante qualquer pessoa e planeja tudo.

Pressiona todo mundo para que a sigam nas suas decisões, e assegura-se de que ninguém erre.

Não presta atenção à opinião dos outros porque está convencida de que ela nunca se equivoca. Vive tão ocupada que não tem tempo para perceber os sentimentos do outro.

Supervisionando e controlando as atividades das pessoas que encontram-se dentro do seu ambiente, ela acredita que está assumindo total responsabilidade, que trabalha duramente em beneficio de todos.

Do seu ponto de vista, está realizando seu máximo esforço para que as coisas funcionem. Mas a realidade é que seus subalternos lhe temem e se mantêm a distância de maneira evidente. Seu esposo sente-se inferior a ela e carece de auto-estima. Ao seu redor, as pessoas não ficam à vontade.

Acende-se uma luz vermelha no seu casamento.

Através de recitar Daimoku, estudar e refletir, ela toma a decisão de dar uma guinada total na situação. Estabelece uma lista de objetivos nos quais não só ela seja beneficiada mas também todas as pessoas com as quais se relaciona. Determina não permitir que seus defeitos sabotem sua relação com os outros e seus esforços por viver uma vida feliz, nem tampouco que arruinem ou interfiram com as vidas de outras pessoas.

Este defeito era parte do seu carma negativo, resultado das suas causas passadas. Mas agora não lhe dará ao seu carma negativo outra oportunidade de gerar novas calúnias. Por conseguinte, sua única alternativa consiste em dar todos os passos necessários para conseguir este objetivo: chega de causas negativas.

Ela sabia que a visão Budista dos três venenos - avareza, ira e estupidez - eram a fonte dos problemas da vida. E tomou consciência de que tinha os três. Era estúpida porque não era capaz de perceber a natureza de Buda nos outros. Não podia reconhecer a igualdade e dignidade que existem em toda vida. Tinha acreditado que podia controlar às pessoas sem perceber que lhe obedeciam somente de maneira superficial. Ficava intolerante e infeliz quando o resultado era insatisfatório, sem considerar sequer as circunstâncias dos outros. Era escrava do veneno da avareza, que a aprisionava no reino da dominação. Tinha acreditado erroneamente que podia conseguir que todos seus desejos se cumprissem somente com exigir aos outros que seguissem suas regras. 

Mas ativou a benevolência da sua natureza de Buda através da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon. Conseguiu vestir a pele do outro.

Compreendeu como pensavam. Se ela fosse um dos seus subalternos, seria capaz de suportar a enorme pressão que ela exercia neles? Pensou nos seus sentimentos. Os respeitou. Começou a averiguar quais eram seus problemas e recitou especificamente pelo desenvolvimento e felicidade de cada um. Começou a reparar nas virtudes dos outros e a orar para valorizá-los e permiti-lhes que emergissem.

Sem estar mais apegada ao seu ego e a seu egoísmo, sem levar nenhuma circunstância de maneira pessoal ou ofensiva, focalizou unicamente no seu objetivo. Através de recitação de Daimoku, seguindo a orientação do Presidente Ikeda para expandir sua vida ao ponto de abarcar todo o universo e poder influenciá-lo, compreendeu que nada a prejudicaria tanto quanto o fracasso de não conseguir transformar sua própria vida.

Hoje muda veneno em remédio. Cria valor a partir dele. É amiga em vez de um superior. Dialoga com os outros. É cada vez mais reflexiva, paciente e de palavras amáveis. Retrocede um passo para dar-lhe aos outros a oportunidade de crescer. E os ajuda quando o precisam.

 

Quando comete um erro, o encara numa boa, porque sabe que é uma oportunidade que tem de aprender e edificar sua própria capacidade, um processo pelo qual todos atravessamos, nada do outro mundo. Transforma as relações negativas em "bons amigos".

Forja equipes capazes que aliviam a tarefa que ela antes tinha. Reserva tempo e energia para si mesma na procura de objetivos mais elevados em outras áreas. E no fim, ela será absolutamente capaz de cultivar suas boas virtudes e de ser um ser humano melhor, além de ter conquistado seu objetivo principal de erradicar sua tendência a dominar os outros. Esta também é uma situação na qual todos são beneficiados, na qual todos ganham. Deste modo, sua prova real é eloqüente em demostrar às pessoas que a rodeiam como o grande ensinamento de Nitiren Daishonin é capaz de fazer felizes aos seres humanos, não importando a situação na qual estejam.

(PS: Neste exemplo não menciono a maneira como agora ela cuida do relacionamento com seu marido. Proximamente nos referiremos ao desafio que supõe a relação de casal.)

O endereço eletrónico de Jeanny é: happyjeanny@hotmail.com
Tradução: Ariel Ricci aricci@estadao.com.br
Revisão: Marly Contesini contesini@estadao.com.br

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