1. O renascimento do Bodhisattva
Havia uma vez um rei de grande integridade. Sua esposa a rainha de um caráter muito doce, deu a luz a um lindo bebê e o Rei sentiu-se imensamente feliz. Pensando em sua conveniência de dar a seu filho um nome que favoreceria por toda a vida, lhe chamou de Príncipe da Palavra Sábia.
Na realidade, o Príncipe não era um bebê comum nem esta era sua primeira vida. Há milhões de anos havia sido fiel discípulo de um Buda, um grande ser Iluminado, já esquecido pela gente. Desejava fervorosamente converter-se a um Buda igual ao seu querido mestre.
Renasceu muitas vezes, às vezes entre animais, as vezes entre deuses de longas vidas e outras vezes entre seres humanos. Sempre tratou de aprender com seus erros para desenvolver todas as perfeições. Deste modo, ele purificava sua mente e removia os três venenos formados pelos apegos, o ódio e a ilusão em si próprio, que são as raízes de todos os estados insatisfatórios. Ao praticar as perfeições, algum dia acabaria substituindo esses venenos com as três purezas, que são: estar livres de ataduras, sempre atuar com benevolência amorosa e possuir grande sabedoria.
Esse grande Ser, acabou de nascer como príncipe, teria sido seguidor de um Buda do passado. Sua meta era alcançar a mesma iluminação de um Buda para poder experimentar a verdade completa. Por isso o chamaram Bodhisattva, o que significa Ser que aspira a Suprema Iluminação.
Nada realmente sabe por quantos milhões de vidas renasceu esse grande herói. Porém, tem-se contado muitas historias, incluindo a seguinte que nos fala de um príncipe chamado de Palavra Sábia.
Depois de muitas vidas mais, finalmente esse Grande Ser chegou a sua meta e em nosso tempo o recordamos com muito amor e respeito como o Buda.
2. Os ensinamentos dos deuses
Após um ano, a rainha teve outro filho e o chamaram Príncipe Lua. Quando ambos os filhos começaram a caminhar, a Rainha adoeceu seriamente e morreu.
Buscando a quem o ajudasse com os cuidados dos bebês, o Rei encontrou uma princesa e a tornou sua nova Rainha. Depois de uns anos, esta Rainha deu a luz a um belo bebê e o chamaram de Príncipe Sol. O Rei de felicidade, queria recompensar a sua rainha por criar os três bebês e concedeu um desejo para agradecer. A Rainha se pós a pensar e disse: “ Obrigada meu senhor, vou esperar para expressar meu desejo em outro momento futuro”.
O tempo transcorreu feliz e os três príncipes se tornaram aplicados jovens. A Rainha viu que o príncipe da Palavra Sábia era muito inteligente e bom caráter e pensou “Se os príncipes mais velhos ficarem no palácio, meu filho, o Príncipe Sol, jamais chegará a ser Rei. Por tanto, devo fazer algo para assegurar que ele seja o futuro rei.”
Um dia, quando o Rei estava de bom humor, a Rainha aproximou-se com respeito e o lembrou que, contudo devia expressar seu desejo. Muito feliz o Rei disse: “Como posso recompensar-te?” Então a Rainha disse: “Meu querido esposo, desejo que, depois que finde a sua vida, meu filho, o Príncipe Sol seja seu sucessor no reino” Muito incomodado disse: “Meus dois primeiros filhos são como estrelas brilhantes. Como posso permitir que meu reino seja herdado por meu terceiro filho? As pessoas não aceitariam. Isto simplesmente não pode ser!”. A Rainha se manteve calada.
Tão feliz o Rei estava, agora caiu em uma grande tristeza. Estava assustado e cheio de temores, temia que a rainha causasse danos a seus primeiros dois filhos mediante algum jogo sujo. Por isso decidiu encontrar uma maneira para assegurar a vida dos seus filhos.
Em segredo, o Rei chamou o Príncipe da Palavra Sábia e seu irmão, o Príncipe Lua em seu escritório e lhes comunicou o infeliz desejo da Rainha. Com grande tristeza os filhos entenderam que a única maneira de garantir suas vidas era que partissem do reino. Só deviam regressar depois de sua morte para ocupar as posições que os correspondiam frente ao reino. Os dois príncipes, obedecendo ao seu pai, aceitaram sua ordem e se prepararam para sair do reino.
Quando estavam pronto, se despediram de seu pai e de seus amigos e se puseram em retirada, cruzando os jardins do palácio, encontraram-se com o Príncipe Sol, ele sempre tinha sido muito afetuoso e queria muito bem a seus irmãos maiores. Ao escutar que iam por muito tempo, não quis aceitar e decidiu ir com eles, deste modo, os três príncipes decidiram viajar juntos.
Viajaram durante meses, até que chegaram em um país montanhoso nos Himalayas, muito cansados se sentaram debaixo de uma árvore, os irmãos maiores disseram ao Príncipe Sol, o menor: “Por favor, vá ao lago que está mais abaixo, encha umas folhas de lótus com água e traga para que nos refresquemos”.
Não sabiam que esse bonito lago de águas azuis estava possuído por um demônio de água. O superior demônio lhe havia dado permissão para comer qualquer ser que usasse dessa água, mas devia respeitar as seguintes condições: Não podia comer alguém que soubesse responder corretamente a pergunta. “Qual é o ensinamento dos deuses?”
Quando o príncipe Sol chegou a beira do lago, sentindo-se sujo, cansado e com sede, simplesmente entrou na água sem nenhuma preocupação. De repente, o demônio da água emergiu das profundezas e o agarrou. Em seguida ele perguntou! “Diga, qual é o ensinamento dos deuses?, “Assustado, o Príncipe Sol contestou: “Conhece a resposta. O Sol e a Lua são os ensinamentos dos deuses”. “Não conhece a resposta e por tanto es meu agora!” disse contente o demônio da água. Logo levou o Príncipe Sol para o fundo do lago e o fechou em uma cova.
Como o príncipe Sol não voltava o Príncipe da Palavra Sábia pediu ao Príncipe Lua, seu segundo irmão, para que fosse ao lago e trouxesse água nas folhas. Ao chegar ao lago, ele também entrou diretamente na água, sem verificar nada. Novamente apareceu o demônio da água, o agarrou e perguntou: “Qual é os ensinamentos dos deuses” O príncipe Lua contestou “Conheço a resposta: As quatros direções, norte, sul, leste e oeste são os ensinamentos dos deuses”. “Não conheces a respostas e por tanto são meus agora!” Logo o demônio também encerrou o Príncipe Lua na mesma cova embaixo da água, onde estava o Príncipe Sol.
Depois, que ambos os irmãos não regressavam o Príncipe da Palavra Sábia suspeitou que algo estranho havia acontecido. Então, ele mesmo foi até ao lago azul. Como uma pessoa sabia e cuidadosa, ele não entrou na água, ele verificou primeiro. Viu que as marcas dos pés de seus irmãos chegavam até as águas, mas sem marcas de sua saída. Para proteger-se, tinha a mão uma espada e um arco com flechas e se pôs a caminhar ao redor do lago.
Ao ver que o príncipe não entrava diretamente na água, o demônio do lago se apresentou em forma de um homem pobre e lhe disse: “Estimado amigo, o senhor esta cansado e sujo caminhando ao redor de um lago, porque não entra na água para banhar-se, beber e comer algumas raízes de lótus?"
Pensando nas marcas dos pés de seus irmãos que entraram mas não saíram do lago, o Príncipe da Palavra Sábia respondeu: “Deve ser uma espécie de demônio disfarçado de ser humano. Que fizeste com meus irmãos? “Surpreendidos por ter sido descobertos tão rapidamente, o demônio da água recuperou a sua verdadeira aparência feroz e contestou o príncipe: “ Porque me é permitido, capturei seus irmãos”
O Príncipe perguntou: “O que lhe é permitido?” O demônio respondeu: “Tenho permissão para comê-los. Meu superior me concedeu o poder de comer a todos que invadem o lago e que não conhecem os ensinamentos dos deuses. Se alguém conhece esses ensinamentos, não tenho a permissão de comê-los.
O Príncipe perguntou: Porque necessita saber disso? Que vantagem tem um demônio como você conhecer os ensinamentos dos deuses?” E o demônio da água contestou: “Deve haver alguma vantagem para mim, pois então, vou ensinar o que os deuses querem que façamos” disse ao Príncipe da Palavra Sábia, “pois tenho um problema, olha-me estou cheio de sujeira da viagem e não sei se me permite falar sobre os ensinamentos sábios nestas condições.”
Então o demônio da água tinha percebido que este príncipe era alguém especial. Por isso ele mesmo se pôs a lavá-lo e refrescá-lo, deu-lhe água para beber com folhas de lótus e deu-lhe umas raízes suaves de lótus para comer. Inclusive lhe preparou um assento confortável e decorou com belas flores silvestres. Depois de guardar sua espada, arco e flecha o grande senhor tomou o assento e o demônio se colocou a seus pés, como se fosse um discípulo escutando o seu mestre.
Então o príncipe da Palavra Sábia disse:” Os ensinamentos dos deuses são os seguintes:
“Deves envergonhar-te de seus atos maldosos.
Não deves envolver em atos maliciosos.
Ao contrário, sempre deves dedicar-te a atos de bem, que levem felicidade aos
demais e que ajudem a humanidade.
Logo brilhará em teu coração a luz da felicidade e da paz.”
O demônio da água sentiu-se compadecido com a resposta e disse: “ Príncipe do grande saber,me sinto muito satisfeito com sua resposta. Me fez muito feliz, devolverei um dos seus irmãos. Qual dos dois você escolhe?
O Príncipe da Palavra Sábia disse: “Devolva-me o meu irmão menor, o Príncipe Sol”
O demônio lhe respondeu: “Meu estimado príncipe, tão sábio que conhece os ensinamentos dos deuses, sem dúvidas, não o está praticando” O Príncipe perguntou: “Porque disse isso? O demônio contestou: “Porque deixa morrer o que é maior e salva o menor: Não está respeitando os mais velhos!”
Então o príncipe disse: “Oh! Demônio conheço os ensinamentos dos deuses e certamente o estou praticando. Os três príncipes saíram do palácio devido ao meu irmão menor. Sua mãe solicitou o reino para ele ao nosso pai. Para protegermos o nosso pai nos mandou longe. O jovem Príncipe Sol nos acompanha por sua lealdade. Por isso se retornarmos a corte sem ele, dizendo que o demônio da água o comeu, quem iria acreditar? Pensariam que nós o matamos porque ele era a causa da nossa pobreza. Isso traria uma imensa vergonha para nós e uma grande dor para o reino. Ao querer evitar esse resultado desfavorável, te peço que solte o Príncipe Sol”
O demônio da água calou-se profundamente, impressionado por aquilo que escutou e disse: “Bem, dito, bem, dito, meu estimado senhor. Conhece os ensinamentos dos deuses e verdadeiramente estas praticando. Muito feliz te devolverei os dois irmãos.” Tão logo falou, entrou na água e trouxe ambos os príncipes até a superfície, estavam molhados, mas não tinham sofrido nada.
Mais tarde, o Bodhisattva continuou aconselhando o demônio dizendo: OH! Demônio da água, serás meu novo amigo, penso que deves ter cometido muitos atos maldosos em suas vidas anteriores para ter nascido como um demônio feroz que se alimenta devorando gente. Se continuar desta maneira, ficarás amarrado a um estado deplorável ainda em suas vidas futuras. As obras maldosas levam a vergonha, a situações dolorosas e a renascimentos desfavoráveis. Sem dúvida, as obras boas são a causa dos desfrutes de respeito, da paz e do renascimento favorável. Portanto, será muito melhor para ti melhorar tua maneira e ao invés de prosseguir com teus atos impuros, dedica-te de agora em diante a frente de obras para o bem. Deste modo, o demônio se arrependeu se suas más ações e os príncipes viveram felizes sob a sua proteção.
Um dia chegou a noticia da morte de seu pai. Então os três príncipes, juntos com seu amigo o demônio da água, regressaram a sua cidade. O príncipe da Palavra Sábia foi coroado como Rei, o príncipe Lua como primeiro ministro e o Príncipe Sol como comandante do exercito. Ao demônio da água, o gratificaram com um lugar seguro para viver, onde o atenderam muito bem, dando muita comida e tudo que lhe fazia falta para ele para o resto de sua vida. Deste modo, todos podiam acumular pensamentos bons e atos louváveis que levaria a renascer no reino do Céu.
Devemos aprender a seguinte... Moral nesta Historia: Os atos maldosos, são causas de vergonha e temor, enquanto os atos bons são causas de desfrute de respeito e paz.
A tradução deste texto é uma
preciosa colaboração de
Elizabeth de Castro e-mail:
elizabethsanches@uol.com.br
Com ilustração de Sandro Neto
Ribeiro contato@maisbelashistoriasbudistas.com
Referências bibliográficas
