As quatro esposas
“Em
um dos sutras Agama, que foi um dos primeiros sermões do Buda, havia um conto
bastante interessante: “Era uma vez um homem indiano que possuía quatro esposas. De acordo com o sistema social e circunstâncias da Índia antiga, era possível um homem possuir várias esposas. Não raro também era, no período Heian no Japão, uma mulher possuir vários maridos.
“Minha
amada esposa”, disse, “Eu tenho amado você dia e noite, e cuidei de
você por toda a minha vida. Neste momento, que estou para morrer, me
diga se, por favor, viria comigo aonde quer que eu vá após minha
morte?” Ele esperava que sua mulher lhe respondesse sim, no entanto, ela lhe disse: “Meu amado marido, eu sei que você sempre me amou, e agora você vai morrer...porém, este é o momento em que me separo de você. Adeus, meu amor”. Então ele chamou sua segunda esposa ao leito de sua morte e implorou a ela que o seguisse e disse: “Minha querida segunda esposa, você sabe do meu amor por você. Algumas vezes me senti inseguro que me deixasse, mas lhe segurei firme e intensamente.
Minha querida, lhe peço, venha comigo...”A segunda esposa,
ao contrário, se expressou friamente: “Querido marido, sua primeira esposa
se negou a acompanhá-lo, por qual motivo eu haveria de seguí-lo? Você me
amou somente pelo seu próprio ego e sentimento egoísta”.
Deitado
em seu leito de morte, chamou sua terceira esposa e também lhe pediu que o
acompanhasse, e ela respondeu-lhe com lágrimas em seus olhos: “Meu querido,
tenho pena de ti, e me sinto muito entristecida, por isto lhe acompanharei até
ao momento de seu enterro. Este será meu último dever a cumprir contigo”.
E ela também refutou em acompanhá-lo em sua morte.
Três
esposas se recusaram a tal pedido, e agora, ele se lembrava que tinha uma
quarta esposa, por quem ele nunca teve nenhum afeto. Ele a tratava como uma
escrava, e sempre se mostrava enfadado com ela. Ele agora, refletindo, pensava
que ela certamente diria não a ele, mas estava tão amedrontado e sentindo-se
extremamente solitário, que resolveu se esforçar em pedir a ela que o
acompanhasse ao “outro mundo”. A quarta esposa, para sua surpresa,
contente, aceitou o pedido de seu esposo.
“Meu
querido esposo”, ela disse, “Irei com você. Não importa o que aconteça,
estou determinada a estar ao seu lado para todo o sempre. Não há como eu
ficar separada de você’.”
Esta
é a parábola sobre ‘Um homem e suas quatro esposas’.
O
Buda Sakyamuni concluiu tal história com as seguintes palavras:
“Todo
homem e toda mulher possui 4 esposas ou maridos. O que estas “esposas”
deste conto representam?’
A
PRIMEIRA ESPOSA
A
primeira esposa consiste em nosso corpo. Nós amamos nosso corpo dia e noite.
De manhã, lavamos o rosto, escolhemos nossas roupas e sapatos, e os vestimos.
Nós alimentamos nosso corpo, cuidamos, amamos e o contemplamos como a
primeira esposa do conto. Mas infelizmente, ao final de nossas vidas, o corpo,
‘a primeira esposa’, não pode nos acompanhar em nosso momento de morte
seguindo ao ‘próximo mundo’. Conforme é dito: ‘Quando o último
suspiro deixa nossos corpos, a cor saudável de nossas faces se transforma, e
perdemos esta aparência de uma vida radiante. Nossos queridos entes e amigos
podem lamentar nossa morte, mas nada podem fazer diante disto. Nosso corpo então
é cremado, e tudo o que resta são nada mais do que cinzas brancas.’ Este
é o destino de nosso corpo.
A
SEGUNDA ESPOSA
Qual
o significado da segunda esposa? A segunda esposa representa as coisas
materiais, nossa fortuna, dinheiro, propriedades, fama, posição social, e
emprego que lutamos bastante para conquistar. Nós somos afeiçoados a
estas posses materiais. Sentimos medo em perder todas estas coisas, e ainda
sempre desejamos obter mais e mais. Não há limite. Ao final de nossas vidas,
tais posses não podem vir junto conosco ao momento de nossa morte. Qualquer
que seja esta fortuna acumulada e conquistada, nós simplesmente a deixamos
aqui. Viemos a este mundo de mãos vazias, e durante nossas vidas, alimentamos
a ilusão de que realmente conquistamos uma verdadeira fortuna. Ao momento de
nossa morte, também seguimos de mãos vazias. Não há como levarmos conosco
tal fortuna material, assim como a segunda esposa disse ao marido: ‘Você me
segurou e cuidou de mim pelo seu ego e sentimento egoísta. Agora é o momento
de dizer adeus’.
A
TERCEIRA ESPOSA
Todos
nós temos uma terceira esposa. Esta consiste no relacionamento que temos com
nossos pais, irmãos, irmãs, todos os parentes, amigos e a sociedade em
geral. Eles nos acompanharão somente até o momento de nosso sepultamento,
com lágrimas em seus olhos. Eles ficam entristecidos e compadecidos com nossa
morte, mas não há nada mais além que possam fazer.
Portanto,
não podemos basear nossas vidas e nos tornar dependentes de nosso corpo físico,
da fortuna que acumulamos, e das pessoas que nos circundam, e da sociedade em
geral. Nascemos sozinhos, e morreremos sozinhos. Não há ninguém e nada que
nos acompanhará no momento de nossa morte.
A
QUARTA ESPOSA
O
Buda Sakyamuni mencionou a quarta esposa, a pessoa quem acompanhou seu marido
em sua morte. O que ela representa?
A
quarta esposa é a nossa mente (ou a consciência ALAYA). Quando observamos e
reconhecemos profundamente que nossas mentes estão preenchidas com
sentimentos de ira, avidez (gula) e descontentamento, estamos tendo uma boa
percepção e realmente enxergando nossas próprias vidas. A ira, a avidez e
tal descontentamento representam nosso CARMA, a lei de causa e efeito. Nós
nunca nos separamos do carma que cada um possui. Como a quarta esposa disse:
‘Eu o seguirei onde quer que vá’. A tradução deste texto é
uma preciosa colaboração de
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