Relato de Experiência
Kallen Chen de Araújo


Meu nome é Kallen Chen de Araújo, tenho 24 anos e resido na cidade de São Paulo. Aos 8 anos de idade, minha família perdeu a sua base principal de sustentação: o meu pai. Ele faleceu de traumatismo craniano, após uma de suas várias quedas na rua, devido ao alcoolismo. Até hoje, eu me lembro dele batendo em minha mãe ou brigando com ela. São poucas as lembranças que tenho dele. Aliás, a última imagem que eu tenho é uma cena que não esqueço até hoje: eu o vi pela última vez em minha casa, em coma, deitado na cama no quarto de minha mãe.

Apesar de toda essa tristeza, quando eu tinha oito anos, minha mãe conheceu e abraçou o Budismo de Nitiren Daishonin, através de minha avó paterna e começou a participar de algumas reuniões realizadas perto de casa. Ela orou com toda a convicção, em busca de uma solução para tanto sofrimento. No dia 12 de janeiro de 1986, convertemos ao Budismo. Eu comecei a participar das atividades devido aos incentivos de minha mãe e tive a boa sorte de participar de muitas reuniões do Grupo 2001, atual Grupo Herdeiro. Assim, desde cedo, tive um contato muito forte com a organização e pudemos aprender muito sobre a importância das atividades e sobre a luta do presidente Daisaku Ikeda. Foi justamente nesta época que tive o primeiro contato com a banda feminina Nova Era Kotekitai.

Em outubro de 1988, eu e minhas irmãs ingressamos na Nova Era Kotekitai e até hoje estou tocando lira, após ter enfrentado grandes dificuldades financeiras para adquirir este instrumento. Nestes 12 anos, como membro da Nova Era Kotekitai, pude participar do 10º Festival Cultural dos Jovens para a Paz Mundial em 1990, no setor do Painel. Em seguida, pela Nova Era Kotekitai participei de um festival no Rio de Janeiro, e de várias outras apresentações. Através da Nova Era Kotekitai que pude revolucionar em 100% minha própria vida. Pude diminuir muito o excesso de timidez pelo qual passava. Essa timidez prejudicava-me em todas as situações, seja na escola, no relacionamento com os amigos e também com os namorados.

Na Nova Era Kotekitai tenho a oportunidade de conhecer muitas companheiras e posso também incentivá-las, pois de alguma forma, elas também passam ou já passaram por problemas parecidos ao meu. Hoje tenho muito orgulho de dizer que neste grupo pude fortalecer ainda mais o espírito de companheirismo entre as meninas e também pude aprimorar e refletir sobre as minhas atitudes. Atualmente nesses 12 anos de prática, eu tive a oportunidade de receber muitos benefícios, talvez alguns são imperceptíveis aos olhos das pessoas que convivem comigo ou que me conhecem, mas são de extrema importância para a minha vida.

Logo que sai do cursinho, em 1994, decidi que prestaria vestibular na ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Passar no vestibular foi um grande benefício para mim, pois como fazia cursinho à noite, não tinha muito tempo para estudar, pois durante o dia ajudava minha mãe no CEAGESP a carregar frutas, legumes e verduras. Em 1995, lá estava eu, cursando a faculdade. O fato de já estar lá dentro, era considerada uma vitória para mim. Porém, nem tudo são flores. Comecei a perceber o quão difícil era estudar pela manhã e ter que arranjar um emprego de tarde. No primeiro ano de faculdade comecei a trabalhar como estagiária de auditoria e depois comecei um estágio no Banco do Brasil, na área de Comércio Exterior.

No Banco do Brasil, pude realmente criar laços de vida a vida com todos os funcionários do meu setor. Todos me consideravam uma estagiária indispensável e para mim isto já era uma grande vitória. Apesar do fato da bolsa-auxílio ser baixa, pois eu nem conseguia pagar o valor integral da mensalidade da faculdade, eu tinha muito orgulho de trabalhar neste local e após dois anos fiquei desempregada. Participei de diversas e talvez centenas de entrevistas e dinâmicas de grupo. Eu enviava em torno de cinco currículos por semana através de anúncios de jornais ou avisos no mural da faculdade. Eu tinha muita dificuldade em conseguir um estágio, pois a maioria das empresas buscavam ou procuravam estagiários para trabalhar em período integral e eu não podia trabalhar em período integral. No final, todos os alunos da minha classe conseguiram que a diretoria do curso aceitasse que metade da classe fosse transferida para o período noturno.

Ainda continuava desempregada e me sentia perdida. Existiam momentos em que eu continuava firme na minha decisão de conseguir o melhor estágio na área de marketing. Mas todos as entrevistas que fazia nesta área eram em vão. Comecei a mandar currículos pela Internet para várias. Eu fazia em torno de três entrevistas por semana, mas nenhuma dava certo, sempre tinha algo que não se encaixava no meu perfil: ou era o inglês que tinha que ser fluente, ou a empresa era muito longe de minha casa, ou a bolsa-auxílio possuía um valor muito baixo, ou a empresa exigia que o estagiário tivesse carro e por aí vai. Mas mesmo assim, não desistia.

Eu não pagava a mensalidade desde o mês de fevereiro, mas mesmo assim me mantinha forte. Porém, às vezes, sentia o quanto era pesado o fardo de ser uma universitária e estar desempregada. Na verdade, eu comecei a compreender o quanto é desanimador ter que pagar a faculdade, trabalhar e não ter dinheiro para nada. Mas o pior de tudo é o estado de vida em que nos encontramos nesta situação. Confesso que me tornei uma pessoa muito pessimista, mal-humorada e extremamente cansada. Eu fui ficando cada vez mais amargurada com minha própria vida.

Apesar disto, eu nunca deixei de duvidar um minuto sequer no Budismo. Eu tinha plena consciência das minhas atitudes e sabia que as circunstâncias pelas quais estava passando, eram um reflexo de minha própria vida e principalmente das minhas atitudes. Eu estava falhando na prática e deixava de fazer daimoku, mas tentava desafiar, mas confesso que não era fácil.

Na faculdade, comecei a navegar na internet nos terminais para estudantes, procurando pelas empresas em busca de estagiários. Eu fiquei tão empolgada com a Internet que cheguei a colocar o meu perfil no site de amigos virtuais e recebia em torno de dez e-mails por dia. Logo, comecei a me corresponder com um rapaz que trabalha numa empresa de telecomunicações que estavam precisando de estagiários de administração e desde então começamos a namorar.

Nesta época fui convocada para participar na comemoração dos 90 anos de imigração japonesa, na cidade de Londrina. E esta não era simplesmente uma apresentação, para mim significava muito mais, pois eu não estava trabalhando, estava em períodos de provas e não tinha sequer um real para pagar a passagem de ônibus.

Decidi que desafiar seria o meu lema. Fomos para Londrina três vezes e sempre tive a ajuda da minha mãe. Nestes ensaios eu realmente pude sentir o tamanho da responsabilidade. Essa responsabilidade não era somente de oferecer uma bela apresentação, era o meu próprio desafio em poder lutar contra todos os obstáculos pelos quais eu estava passando. E de alguma forma, eu sentia que esta apresentação não era igual às outras.

Em Rolândia, pudemos contar com a presença do Sr. Hiromassa Ikeda e do Pres. Fernando Henrique Cardoso. Eles realmente ficaram muito impressionados com a garra, a luta e a convicção de todos os membros que se apresentaram naquele dia e eu pude realmente sentir e refletir sobre toda a minha vida e ver que eu precisava lutar mais e dedicar todas as minhas forças para incentivar todas as meninas que não puderam estar presentes.

Lutar é um privilégio que todas as pessoas possuem, porém nem todas sabem disso. A influência de circunstâncias ruins desanima qualquer pessoa, mas se o desejo de ser feliz é maior, nada poderá atingir esta pessoa. Ela torna-se forte e nada a atinge.

Este era o meu pensamento. Será que eu estou me esforçando para modificar a minha condição de vida. Tudo o que estava acontecendo comigo nestes anos, eram nada mais do que o reflexo do meu próprio estado de vida. Eu me sentia uma pessoa derrotada e consequentemente o meio ambiente era influenciado pelo o que eu sentia por dentro. Eu precisava mudar, e foi através dessa decisão, depois da atividade em Londrina, que tudo foi mudando de tal forma que eu fiquei surpresa comigo mesma.

Uma semana depois, recebi um telefonema para participar de uma entrevista como estagiária e no mesmo dia fiz três entrevistas. Foi tão rápido que nem eu acreditei! Como resultado, ingressei como estagiária no setor de Logística e Marketing de uma empresa de Alimentação. Iniciei o ano de 1999, no último ano de faculdade, tive a oportunidade de ser efetivada, mas optei pela oportunidade de buscar um emprego melhor. Sentei na frente do Gohonzon e decidi que conseguiria o melhor emprego na área de Marketing e que ganharia o melhor salário para que eu pudesse pagar todas as mensalidades atrasadas da faculdade.

Como a bolsa-auxílio não era suficiente para pagar uma mensalidade da faculdade, decidi que teria que mudar minha situação. Já estava chegando o mês de junho e qual não foi minha surpresa quando recebi a proposta de trabalhar em outra empresa, também como estagiária, porém na área de Marketing e o salário era o suficiente para pagar duas mensalidades num mesmo mês.

Continuei incentivando as moças do meu distrito e lutamos pelo sucesso da Convenção dos Jovens realizada no final de 1999. No mês de novembro apresentei minha tese junto à banca examinadora e consegui a nota máxima: 10. Recebi um certificado de excelência como um dos melhores trabalhos já feitos na faculdade. Este foi um motivo de muito orgulho para mim e fiz questão de colocar minhas palavras de agradecimento ao meu mestre da vida Daisaku Ikeda, que sempre incentivou-me através de suas orientações. Sempre li suas orientações no Brasil Seikyo, seja no ônibus ou no metrô, e foi através destas palavras que pude fortalecer ainda mais minha prática e renovar meu espírito de lutar em prol da paz e das pessoas.

Na nova empresa consegui pagar todas as mensalidades da faculdade. Como só havia pago somente a matrícula correspondente ao mês de janeiro, estava chegando no mês de novembro sem pagar a mensalidade de fevereiro em diante. Sentei na frente do Gohonzon e lancei o objetivo de entrar no ano 2000 sem nenhuma dívida e após quitar toda a faculdade, fui efetivada como Assistente de Marketing no começo de 2000.

Atualmente tenho me esforçado para tornar-me uma digna representante do Budismo de Nitiren Daishonin e procuro sempre esforçar-me para tornar-se uma líder na organização e na sociedade. Sempre procurei mostrar através das minhas ações o que é ser um verdadeiro discípulo de Nitiren Daishonin, buscando ser a melhor filha, a melhor aluna, a melhor funcionária, a melhor namorada e a melhor amiga.

Meu namorado, Fábio Mello, também é sinônimo de muita boa sorte, pois mesmo sem praticar, entende perfeitamente a minha luta e embora algumas vezes reclame das várias atividades em que participo, ele me apóia e até procura participar também. Outra pessoa inestimável é a minha mãe que nunca mediu esforços, mesmo nas horas mais difíceis, para proporcionar a educação básica para que eu pudesse me tornar uma profissional vitoriosa, ao meu mestre Daisaku Ikeda, que está ensinando-me a lutar pela minha revolução humana, tornando-me um autêntico valor como ser humano e finalmente a todos os meus amigos que sempre estarão ao meu lado - e eu ao lado deles - quando for necessário.


Obrigada. Kallen Chen de Araújo
 


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