Relato de Experiência
Ana Maria de Moraes Gonçalves


Meu nome é Ana Maria de Moraes Gonçalves, sou responsável da divisão das senhoras da Comunidade Esperança, na cidade de São Paulo e gostaria de relatar um poucos sobre as minhas experiências na propagação do budismo.

Comecei a prática no ano de l994, através da minha amiga Georgeta. No primeiro dia que recitei o Nam-myoho-rengue-kyo, senti uma grande alegria em meu coração. Era algo tão transparente que minha sogra notou e eu – automaticamente - ensinei sobre o budismo para ela e para o meu cunhado.

De início, ela ficou assustada, imaginando que eu tivesse ingerido alguma coisa, pois o meu rosto estava quente e minhas bochechas vermelhas. Mas, eu podia sentir a energia que exalava pelos meus poros e fiquei recitando estas palavrinhas ansiosa, esperando meu marido chegar. Assim que ele abriu a porta, corri até ele e falei sobre o Nam-myoho-rengue-kyo. A alegria de transmitir era imensa, mas ele se mostrou preocupado dizendo que eu não deveria confiar em pessoas estranhas, ainda mais sendo uma mulher de músico, pois esse povo é tudo maluco.

Estas foram suas palavras, mas eu não dei importância, pois a alegria que eu senti era maior do que qualquer coisa que eu pudesse ouvir naquele momento. Logo, comecei a recitar todos os dias, mas sofri a oposição por parte do meu marido que não acreditava em nada e desconfiava de todo mundo. Tinha que desafiar horas de daimoku para conseguir ir às reuniões e depois agüentar o seu comportamento, mas aprendi a agir com equilíbrio e benevolência. Eu não tinha o costume de sair sozinha, ele não queria me acompanhar e não aceitava o budismo. Eu sempre concordava com ele, mas com relação a freqüentar as reuniões eu fazia prevalecer a minha opinião, porque tinha a plena convicção que esta religião iria mudar nossas vidas.

Tive vários momentos ruins, maldades surgiram e o meu carma manifestou de forma constante. Era difícil entender o que estava acontecendo em nossas vidas, mas através do desafio de horas de Daimoku, das orientações do presidente Ikeda e do apoio dos veteranos, eu venci.

Um dia, disse com toda a convicção: nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida, hei de provar a você que o budismo de Nitiren Daishonin é verdadeiro. Com base nesta luta, percebi que o meu comportamento estava mudando, já não brigava mais e fui adquirindo a calma e sabedoria para lidar com todo o tipo de situação. Devido essas mudanças, eu acabei concretizando o meu primeiro chakubuku, o meu próprio marido.

As dificuldades financeiras eram enormes, e é difícil imaginar o que tive de suplantar. Mas mesmo diante de tantas dificuldades, conseguimos sentir a alegria e a esperança por estarmos transformando nossas vidas.

Começamos a ensinar o budismo para nossos familiares e para as pessoas as quais encontrávamos no trabalho, no posto de saúde, na rua, enfim em qualquer lugar que havia alguma pessoa sofrendo.

Até hoje é assim, sinto que as pessoas percebem que temos algo para oferecer a elas. Muitos de nossos familiares não acreditavam em nós, mas ouviam por educação, pois muito deles estavam numa situação financeira melhor do que a nossa. Mesmo assim, ardia um forte desejo em mim, para que pudessem sentir o que eu estava sentindo.

Tanto a minha família, como a do meu marido moram no Vale do Paraíba. Em uma de nossas visitas, procurei saber onde ficava o Centro Comunitário na cidade de Pindamonhangaba. Assim que encontrei o local, fiz questão de levar minha irmã e minha sogra para conhecer o Gohonzon. Nesse dia, o senhor Paulino Oshiro estava liderando a reunião e fomos muito bem recebidos. Após a reunião, ele e os demais dirigentes ficaram dialogando conosco, e eu recordo da decisão que fiz, estava convicta que iria converter toda a minha família e a do meu marido ao budismo. Senti nesse momento que 50% desse objetivo estava concretizado, tamanha foi a minha convicção.

Foram três anos de luta e apesar de minhas duas irmãs residirem no meio da serra da Mantiqueira, nós não poupávamos esforços. Por diversas vezes, caminhamos no meio da madrugada, dentro de matas escuras para incentivá-las. Entregamos jornais da BSGI e ensinamos a leitura do sutra em visitas que duravam todo o final de semana e somente retornávamos para São Paulo quando tudo estava realizado e o nosso coração convicto.

Em São Paulo, nossa missão continuava, sendo que toda atenção era voltada para os convidados que aqui se encontravam. Tivemos muito apoio de veteranos que iam conosco até a cidade de Santo Antonio do Pinhal, e certa ocasião, conseguimos reunir vinte pessoas na salinha da minha irmã, no frio da serra da Mantiqueira. Lembro-me dos olhinhos de cada um deles, cheios de esperança, certos de terem encontrado a religião que iria mudar suas vidas.

Devido a essa luta, nossa vida começou a mudar, dinheiro já não faltava mais e muito pelo contrário, sobrava. Assim, adquirimos um carro novo para poder fazer as visitas familiares. Comecei a ter tudo aquilo que não podia ter antes, e até senti medo, pois tudo veio de uma só vez. A transformação financeira foi tão grande, que todos os nossos familiares perceberam e decidiram a abraçar o Gohonzon.

Hoje, sete dos meus familiares receberam o Gohonzon e sempre me lembro de uma orientação do Presidente Ikeda que diz não adiantar nada falar em filosofia, se não mostrar em sua própria vida, o que é ser budista.

O chakubuku que mais me emociona é o meu próprio pai, que aos 68 anos, criou nove filhos com muita dificuldade. Ele perdeu sua mãe com 9 anos de idade, sendo que ela havia sido assassinada pelo próprio marido. Ele acabou sendo criado pelos avós e sofreu bastante mesmo depois de casar, pois teve que lutar muito para criar os filhos.

No decorrer de sua vida muitas outras coisas ruins aconteceram. Seu pai veio a suicidar-se com um tiro no ouvido. Alguns anos depois, seu irmão - que ele criou - também se suicidou na porta de sua casa, com um tiro na cabeça. No ano de 1982, perdeu um filho de l6 anos, embaixo de um trator, pois a máquina esmagou a sua cabeça.

Após três anos, ocorreu outra tragédia na família. Na mesma estrada de Campos de Jordão - onde perdemos nosso irmão - quatro familiares perderam a vida num acidente de carro: meu outro irmão de 28 anos, minha mãe de 42 anos, minha cunhada grávida de 6 meses e meu tio com 32 anos. Alguns anos depois, outro tio se enforcou com um fio de telefone. Meu pai morreu para o mundo naquele dia, 5 de junho de 1989.

Ele decidiu se afastar da família durante cinco anos, isolando-se de tudo e de todos no meio do mato. Lá, ele não tomava banho, não tinha luz, e vivia num casebre no meio da mata.

Um dia meu marido foi visitá-lo e o encontrou doente. Ele declarou que já não tinha mais vontade de viver e que a sua intenção era dar fim em sua própria vida. Meu marido teve bastante benevolência com meu pai, trouxe-o para São Paulo e ensinou-lhe o Nam-myoho-rengue-kyo. Quando fomos levar o meu pai de volta para o interior, o meu marido me deixou na casa de uma senhora budista da cidade de Tremembé e saiu com meu pai. Logo em seguida, quando ele foi atravessar a rua, foi atropelado.

Ao chegar em casa, vi seu rosto todo machucado. De forma calma, ele entrou, tocou o sino e agradeceu ao Gohonzon, declarando que acabara de transformar o carma de acidente em nossa família. Hoje, meu pai e toda minha família são praticantes e atuam como os pioneiros budistas na cidade de Santo Antonio do Pinhal.

Meu pai construiu em sua casa, um pequeno Centro Comunitário, na qual foi inaugurado no dia 08 de agosto de 2000. Foi emocionante a luta que ele fez para realizar este feito. Por este homem e por todos meus chakubukus, eu jamais me permito a ser derrotada.

Mesmo que eu sofra grandes perseguições ou quer surjam inúmeros obstáculos, nunca posso esquecer a lei do Nam-myoho-rengue-kyo e as orientações do presidente Ikeda, que despertaram a vontade de viver ao meu querido pai. Hoje, eu e meu marido concretizamos 32 chakubukus e a nossa comunidade cresce a passos largos com toda esta luta.

Atualmente, eu e meu marido atuamos como responsáveis de comunidade e sempre temos em mente os mesmos objetivos: fazemos muitas visitas, cuidamos de nossos convidados e de todos os nossos membros. No mês de maio de 2000, a nossa comunidade foi dividida e desde então, já concretizamos mais 18 novos membros. No início das atividades da comunidade Esperança, somente havia uma pequena sala para reuniões, mas hoje, podemos acomodar mais de sessenta pessoas.

As pessoas que participam na Comunidade Esperança não encontram somente o budismo, mas também o calor humano, atenção e carinho. Eu me sinto responsável pela felicidade de todos os membros, como uma mãe pelos seus filhos. Assim, todos os membros da comunidade realizam a prática de propagação de forma espontânea e alegre.

Posso afirmar que estou vivendo a melhor fase da minha vida e vejo o quanto valeu toda a minha luta. Estamos construindo nossa própria história, cheia de dificuldades e alegrias, e assim polindo nossas vidas. Muito obrigada a todos os meus veteranos que nunca mediram esforços em nos incentivar.

 

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