Revolução Humana

Por Daisaku Ikeda

Há muitos tipos de revoluções – ao nível político, econômico, industrial, científico, artístico e assim por diante. Mas, não importando o quanto os fatores externos se modifiquem, o mundo nunca irá ser um lugar melhor enquanto as pessoas permanecerem egoístas e apáticas. O ex-presidente dos EUA, John F. Kennedy disse em 1963: "Nossos problemas são resultado da ação do homem, por isto, somente poderão ser resolvidos por ele mesmo. O homem pode se tornar tão grande quanto ele quiser."

Uma mudança interior e positiva em uma única pessoa é o ponto inicial para que a raça humana se torne mais forte e sábia. Eu acredito que esta revolução humana é a mais fundamental e vital de todos os processos pelas quais o homem deve enfrentar.

Esta revolução – um ato interior em busca do auto-aprimoramento – é completamente pacífica e sem nenhuma derramamento de sangue. Todos saem vitoriosos e não vítimas.

A vida é um luta consigo mesmo, é um "cabo-de-guerra" entre mover-se para frente e manter-se atrás; entre a felicidade é a miséria. Nós estamos mudando constantemente, mas a questão primária é se estamos nos transformando para o melhor ou para o pior, se nós estamos sendo vitoriosos em ampliar nosso foco egocêntrico e limitado em prol de uma visão mais ampla.

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Daisaku Ikeda é pacifista, escritor, filósofo, fotógrafo e poeta.  Também conhecido como "Embaixador da Paz", é presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), uma ONG, com base budista,   filiada às Nações Unidas, que atua nas áreas da cultura, educação, paz, meio-ambiente, desarmamento nuclear e apoio a refugiados de guerra.

Todos os dias estamos enfrentando incontáveis escolhas e decisões. Nós temos que decidir qual o caminho a ser trilhado para que possamos nos tornar um indivíduo melhor e com um espírito mais generoso. Não podemos permitir que sejamos levados pela força do hábito, agindo da mesma forma em situações semelhantes. Caso contrário, iremos somente permanecer no caminho da menor resistência e iremos para de desenvolver como seres humanos.

Mas, se somos capazes de desafiar a si mesmo em um nível fundamental, seremos capazes de influenciar positivamente as circunstâncias que nos cercam, ao invés de sermos meramente influenciados pelo ambiente e pelas pessoas ao nosso redor. Desta forma, cada um de nós molda de maneira ímpar a sua existência através das infinitas escolhas que tomamos todos os dias.

A verdadeira individualidade e característica nunca desabrocha sem um trabalho árduo. Eu acredito que é um engano pensar que o que somos no presente representa tudo o que somos capazes. Se alguém decide passivamente: ‘Eu sou uma pessoa quieta, então eu irei ser quieto por toda a minha existência’; então, nunca será capaz de evidenciar todo o seu potencial. Sem que seja necessário modificar de forma radical as suas características, é possível se tornar uma pessoa que - embora seja basicamente quieta - irá dizer as palavras certas nos momentos adequados e com total convicção.

Da mesma forma, uma pessoa que tenha a tendência negativa de ser impaciente poderá desenvolver sua característica para que as tarefas ao seu redor possam ser concretizadas de forma rápida e eficiente.

Mas nada é mais imprecindível - ou mais díficil – do que confrontar e transformar a si mesmo. É tentador decidir: ‘Este é o jeito que eu sou’, mas, se não desafiarmos estas tendências o mais cedo possível, elas irão impregnar em nosso ser no decorrer dos anos.

Com certeza, este esforço não será em vão, pois eu tenho a plena convicção que nada produz uma satisfação maior do que ser capaz de ser vitorioso contra a sua própria fraqueza. Como disse o escritor russo Tolstoy: ‘A suprema felicidade é descobrir que se tornou um pessoa melhor no final de um ano, em comparação do que era no começo’.

A revolução humana não é algo extraordinário ou divorciado de nossas vidas diárias. Tem início, geralmente, de forma tímida. Tomemos como exemplo um homem que pensa somente em si mesmo, sua família e amigos. Um dia, ele toma uma ação para quebrar este círculo, socorrendo um vizinho em apuros. Este é o começo da sua revolução humana.

Ademais, este processo não pode ser empreendido sozinho. É preciso que haja uma interação com outros e que irão polir nossas vidas e nos direcionarão para o crescimento como seres humanos. No Japão, as batatas que crescem nas montanhas - conhecidas como ‘taros’ – são ásperas e suja quando colhidas. mas ao serem lavadas todas juntas faz com que as cascas se tornem limpas e brilhantes, prontas para serem cozidas. Da mesma forma, a única forma de polir e aprimorar nosso caráter é através da interação com outros seres humanos.

O ato de ajudarmos outras pessoas e estarmos engajados de forma positiva com outros indivíduos nos transforma em pessoas melhores e com maior disciplina. Mas isto não significa que devemos abrir mão da nossa própria felicidade, pois o bem-estar que geramos como indivíduos, e os fortes laços que desenvolvemos com aqueles ao nosso redor, resultam na felicidade de toda a humanidade.

A transformação de nossas vidas no nível mais fundamental é a chave para a mudança de toda a sociedade. Um profunda mudança em nosso ponto de vista, que transforme a realidade interior de nossas vidas, irá desencadear em modificações externas que irão repercutir em nossa comunidade.

Eu tenho a plena convicção de que uma grandiosa revolução humana de uma única pessoa poderá colaborar na mudança do destino de uma nação e refletir em toda a humanidade.

A vida de Mahatma Gandhi ilustra este ponto. Quando garoto ele era extremamente tímido. Ele sempre achava que as pessoas iriam tirar sarro dele. Mesmo após se formar como advogado ele ainda mantinha sua timidez e quando se apresentou perante a corte em seu primeiro caso como promotor, ele estava tão nervoso que teve um lapso de memória e teve que se retirar da sala do julgamento.

Mas a reviravolta ocorreu quando ele estava na África do Sul, país onde os indianos sofriam uma severa discriminação. Gandhi estava sentado num vagão da primeira classe, quando recebeu ordens de mudar para um vagão comum. Ele se recusou, e posteriormente foi obrigado a descer do trem. No salão de espera da estação, Gandhi permaneceu acordado durante toda a noite, refletindo se ele deveria retornar para a Índia ou levantar a árdua bandeira dos direitos humanos. Ao final, ele compreendeu que se agisse de modo covarde iria fugir de seus medos e acabaria por permitir que outras pessoas sofressem a mesma discriminação por qual passou.

A partir daquele momento, Gandhi diligentemente enfrentou e desafiou sua natureza tímida, determinado a vencer a injustiça. Assim, a sua mudança interior se expandiu até se transformar em um dos maiores movimentos sociais no século XX, através da não-violência.

Cada um de nós possui um tremendo potencial a ser descoberto. Através do trabalho contínuo em prol da nossa revolução humana, este potencial poderá ser desenvolvido e poderemos estabelecer uma personalidade independente e invencível. Seremos capazes de lidar de forma criativa diante de novas situações que a vida nos proporciona. Este processo contínuo nos capacita a manter um ritmo contínuo de crescimento por toda a nossa existência e além. Nós nunca iremos estar num beco sem saída em nossa eterna jornada pela auto-realização.

Fonte: Mirror Weekly – Semanário publicado na República das Filipinas – 07/12/1998

  Preciosa Colaboração de Charles Chigusa
e-mail: chigusacharles@hotmail.com

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