A História do Imperador Sushun


(...) O tesouro do corpo é mais valioso do que aquele guardado no cofre: e o tesouro acumulado no coração é muito mais valioso do que o tesouro do corpo.

Após ler esta carta, dedique-se em acumular o tesouro do coração.

Eu tenho a contar-lhe um dos episódios mais secretamente guardados. Na história do Japão, houve dois imperadores assassinados. Um deles foi Sushun, o 33o imperador. Ele era filho do imperador Kinmei e tio do príncipe Shotoku. Certo dia ele chamou o príncipe Shotoku e ordenou: "Ouvimos dizer que o senhor é um homem de sabedoria insuperável. Aplique-me a fisiognomonia". O príncipe negou por três vezes, mas o imperador insistiu que Shotoku obedecesse a ordem real. Finalmente não podendo mais recusar, o príncipe fez respeitosamente a profecia fisiognomônica de Sushun, e disse: "Majestade, o senhor tem o presságio do assassinato em sua face".

Mudando a cor de sua face, ele rosnou: "Que evidências tem o senhor, para convencer-me da credibilidade do que constatou?" O príncipe respondeu: "Vejo veias vermelhas em seus olhos. Isso indica que o senhor incorrerá na inimizade das pessoas". E então o imperador perguntou: Que posso fazer para evitar esse regicídio?" O príncipe disse: "É difícil evitar . Entretanto, existe um forte guarda chamado os cinco grandes princípios da humanidade. Enquanto este grande guerreiro ao seu lado, o senhor estará livre de qualquer atentado contra sua vida. Nas escrituras budistas, esse guarda é conhecido como "perseverança", um dos seis paramitas"1

Por algum tempo, Shushun observou rigorosamente a prática da perseverança. Entretanto, por sua natureza irascível, um dia ele violou o preceito quando um dos seus súditos presenteou-o com um javali novo. Ele puxou a espada e enterrou-a num dos olhos do animal, e depois no outro, dizendo: "Um dia faremos isto com alguém a quem odeio!" O príncipe Shotoku estava presenciando a cena. "Que coisa deplorável o senhor fez!", disse ele ao imperador. "Sem dúvida, o senhor atrairá o ódio das outras pessoas, Majestade. As palavras que o senhor pronunciou serão a espada que atravessará o seu dono". O príncipe ordenou então que fosse trazido tesouro para ser dividido entre os que ouviram as frases do imperador, na esperança tácita de que o assunto seria mantido entre eles. Entretanto, um deles informou o episódio ao ministro Soga-no-Umako, Umako, imaginando que fosse a ele a quem Sushun odiava, mandou que o filho de Azumaaya-no-Atai, Atai Goma, matasse o imperador.

A história acima nos lembra que mesmo aquele que está no trono deve evitar o ato de dar expressão desenfreada aos seus pensamentos. Confúcio observava o provérbio: "Nove pensamentos para cada palavra". Ele ponderava nove vezes antes de falar. Tan, o Duque de Chou era tão atencioso em receber os seus visitantes, que ficou famoso por ter interrompido seu banho por três vezes num dia, e sua refeição três vezes noutro, a fim de não deixá-los esperando. ...

... O propósito do Advento do lorde Buda neste mundo estava em seu comportamento como ser humano. Quão profundo! O sábio deve ser chamado humano, e os tolos, animais.


Esta carta se chama "As três espécies de tesouros" e foi escrita por Nitiren Daishonin em 11 de setembro de 1277 e foi endereçada a Shijo Kingo - um dos seus maiores seguidores. (aqui foi reproduzida somente um trecho)

1 - Seis paramitas: seis práticas de Bodhisattvas do Budismo Mahayana. Paramita significa partir desta praia da delusão e chegar à outra, a praia da iluminação. Os seis paramitas são o oferecimento de esmolas, a observância aos preceitos, perseverança, assiduidade, meditação e obtenção de sabedoria.

 

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