Como o Budismo vê o Amor

De repente, a paixão. Uma emoção avassaladora que encobre o nosso raciocínio e nos faz perder o rumo de nossas metas, somente pela vontade de estar com a pessoa durante as 24 horas do dia, desfrutando do seu prazer e da sua companhia. Logo, surgem planos para o futuro: de viver juntos, casar. Em suma, formar uma nova família e ser "felizes para sempre". Mas, será esta a realidade que encontramos em nosso dia-a-dia ?

Quantas vezes presenciamos um casamento que se transforma em divórcio após algum tempo, ou brigas fúteis que fazem o amor desaparecer com a mesma rapidez com que surgiu ?

Monica Roberts, membro da SGI-Itália, relata que iniciou sua prática budista aos 20 anos e que devido ao seu comportamento impulsivo, decidiu morar com um namorado, após tê-lo conhecido por somente um mês, no ano de 1992. Algumas semanas depois, a relação se deteriorou e ela foi abandonada por ele. Assim, ela decidiu partir para Londres, onde conheceu um outro rapaz, Paul, por quem se apaixonou. Mas, eis, que ela descobriu estar grávida do ex-namorado.

Sentindo-se desprotegida, ela não sabia se iria ter o filho ou não. Logo, um veterano na prática lhe incentivou da seguinte maneira: "A decisão de abortar ou não, está em suas mãos. O budismo ensina o respeito pela vida e a sua opção deve ser baseada na sabedoria provinda do estado de Buda, não na emoção do momento".

Desta forma, Monica compreendeu que ela era livre para escolher, mas que esta deveria ter uma razão concreta. Percebeu que como budista, ela não poderia se comportar de forma irresponsável e superficial, ou basear suas decisões devido ao medo interior ou devido a opinião alheia.

Após diversas horas de daimoku, ela compreendeu que as únicas razões para abortar seriam de: estar com Paul, estar livre para viajar e desfrutar a vida sem este "problema". Assim, ela decidiu ter o bebê.

Apesar disto, ela reiterou em suas palavras que esta foi uma decisão pessoal, e talvez esta não seja a melhor escolha para uma outra pessoa que se encontre na mesma situação.

Após decidir ter o bebê, ela começou a sentir fortes contrações e foi aconselhada pelo médico a permanecer em repouso absoluto, caso contrário, irei perder o feto. Neste momento, sua mente inundou-se de dúvidas, pois ela acreditava que devido a sua forte decisão e sincera prática, ela teria como garantia, somente maravilhosos benefícios e proteção. O princípio de que um praticante enfrentaria diversas dificuldades, doenças ou calamidades para que empreendesse um esforço maior visando transformar o seu próprio carma, era algo que nunca havia compreendido.

Com o incentivo de diversos companheiros, ela decidiu mudar o seu carma e iniciou a prática do daimoku por horas à fio. Aos poucos, ela foi adquirindo um sentimento de segurança e confiança, permeada com a esperança em prol do futuro.

Paralelamente, Paul, de Londres, começou a ligar e escrever para ela. Há algum tempo atrás, Monica não permitiria que ele a visse numa situação tão vulnerável. Mas, agora, ela estava livre deste sentimento de insegurança e competitividade. Este novo comportamento teve um impacto maior sobre Paul, que ficou impressionado com a sua determinação e independência, declarando assim, seu profundo amor por ela.

Após o nascimento de Martina, Paul foi até a Itália e pediu para que ela e sua filha fossem com ele para Nova Iorque, onde ele havia sido transferido. Ambos se casaram numa cerimônia realizada no Centro Cultural da SGI-USA em 1995 e após um estadia de três anos, retornaram para Londres.

Monica finaliza com as seguintes palavras: "Por causa dos diversos sofrimentos que passei, eu aprendi a confiar no Gohonzon e no meu estado de buda; ao invés, de somente seguir os meus medos. Eu consegui concretizar muitos dos meus sonhos, fiz coisas que pensei ser impossível por ter um filho. Hoje, eu tenho um casamento feliz, voltei para a Universidade, viajei e vivi em diversos países, além de outras experiências. Agora eu compreendo que se não tivesse passado por estas amargas experiências, eu não teria transformado certos aspectos do meu carma e tenho certeza que não teria conseguido manter um casamento tão feliz como o que eu obtive. Nossa relação é livre de ódio e competição e Paul é um marido e pai perfeito. Embora ele não pratique o budismo, me dá todo o apoio e condições para que eu possa praticar."

O presidente Ikeda escreveu a seguinte passagem: "O amor real não existe quando duas pessoas estão grudadas, somente poderá ser estabelecido entre duas fortes pessoas que estão seguras de sua individualidade. Uma pessoa superficial somente terá relações superficiais. Caso queira uma verdadeiro amor, é fundamental desenvolver uma forte auto-identidade em primeiro lugar. O amor verdadeiro não está no ato de realizarmos o que a outra deseja que façamos, ou fingirmos ser o que na verdade não somos. O amor ideal é somente criado entre duas pessoas sinceras, maduras e independentes."

Por esta razão, nada é mais sábio do que sermos capazes de nutrir o nosso caráter através de diligentes esforços - quer no ambiente de trabalho, na família, escola e com os nossos amigos. Desta forma, iremos alcançar um estado de vida que nos possibilite a suplantar todas as adversidades e naturalmente iremos atrair as pessoas certas ao nosso redor.

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Preciosa Colaboração de
Charles Tetsuo Chigusa chigusacharles@hotmail.com Tóquio - Japão